por Luiz Holanda
No livro “A Escolha”, Temer, que conspirou para suceder Dilma, diz que apenas se beneficiou da situação devido a sua condição de sucessor constitucional da ex-presidente.
Já Cunha, no livro “Tchau, querida, O Diário do Impeachment”, que deverá ser lançado em abril, pretende demonstrar que Temer foi o principal beneficiário da situação.
Rodrigo Maia, que, segundo Cunha, também se beneficiou do impeachment:
“Não tinha limites para a sua ambição e vaidade. Na busca pelo protagonismo, quis forçar ser o relator da Comissão Especial de Impeachment. Eu tive de vetar”, confessou.
Baleia Rossi, também citado, saiu ferido:
“A empresa Ilha Produções Ltda., pertencente ao irmão de Baleia e a sua mulher, recebeu nas campanhas eleitorais de 2010, 2012 e 2014 milhões de reais em pagamentos oficiais e caixa dois, inclusive da Odebrecht”.
Cunha não tem muito que perder. Condenado a 14 anos e seis meses de prisão — cumpriu três anos e cinco meses em regime fechado. No momento está em prisão domiciliar, no Bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em seu desabafo, diz que Temer fez sua “escolha” desde a reeleição de ambos.
Rodrigo Maia ficou indignado com a confissão de Cunha. Segundo ele, Cunha é um mentiroso, pois para derrubar Dilma era preciso reunir muita gente, principalmente os traidores do então governo. Para Maia, Cunha tenta criar uma versão visando se manter como protagonista da história, muito embora a “História já o expulsou das páginas gloriosas e o prendeu em notas de rodapé”.
Temer relata os encontros que teve com os generais Eduardo Villas Bôas e Sergio Etchegoyen, este Chefe do Estado-Maior do Exército.
O PT estava muito desgastado com os militares, principalmente diante do receio de que Dilma mudasse a Lei de Anistia e de temas como o Programa Nacional de Direitos Humanos-3, de 2009.
Os militares temiam que os petistas e seus aliados buscassem mudar a forma de acesso de oficiais ao generalato e a formação dos militares nas academias. Queriam, por isso, ouvir o então vice para saber como deviam atuar. O relato feito por Temer busca colocar no campo da institucionalidade o que para os petistas era apenas uma conspiração.
Cunha acusa Temer de “o grande conspirador”, detalhando os conchavos que marcaram a queda da petista. O livro, com 740 páginas, discorre sobre a participação de Sérgio Moro, Rodrigo Janot e de outros no episódio.
Depondo no processo da Lava Jato, Cunha disse que Temer, numa reunião para nomeação dos dirigentes da Petrobrás, indicou vários nomes para a diretoria da petroleira. Este, no mesmo processo, afirmou que “não houve essa reunião”.
Os dois eram amigos e confidentes. No livro de memórias do ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot, Temer aparece pedindo a Janot, em março de 2015, para ele não investigar Cunha, recém-eleito na época para a presidência da Câmara.
Diante dessas versões contraditórias, jamais saberemos quem está falando a verdade. O ex-senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse certa feita que “Cunha sabe muito de Temer na presidência do PMDB, das armações, dos desvios. Eles atuavam juntos. Agora, às vésperas do Supremo Tribunal Federal julgar um pedido de habeas corpus, Cunha cobra a fatura do golpe que levou Temer ao poder”.
E mais: “Cunha é Temer e Temer é Cunha”.
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