Percival Puggina
A história de vida do candidato Lula foi apagada. Seus ditos e feitos não eram mais mencionáveis. Perguntas inconvenientes foram proibidas. De um lado, instalou-se a censura; de outro, privacidades foram devassadas. As instituições introduzidas ao panteão das sacralidades. Comunicadores souberam-se silenciados. Vidas entraram em stand-by na perenidade dos processos do fim do mundo.
Tem mais. As imagens do general G. Dias convivendo com os invasores e depredadores do dia 8 de janeiro só vieram a público porque “vazaram”. As imagens do Ministério da Justiça foram apagadas. O governo vandalizou a CMPI.
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Agora, é o vídeo do aeroporto de Roma que está com divulgação proibida. As poucas imagens levadas ao conhecimento da sociedade são estáticos “frames” de uma “cena de crime” cuja compreensão exige os movimentos colhidos pelas câmeras. Convenhamos, em quadrinhos cortados de um filme, carinho afetuoso na bochecha e “bolacha” no rosto ficam muito parecidos.
O relatório da Polícia Federal sobre a ocorrência não é conclusivo. Diz que Roberto Mantovani parece ter batido as costas da mão direita no rosto de Alexandre Barci. A Associação dos Peritos Criminais Federais põe em dúvida o documento encaminhado à Procuradoria Geral de Justiça, feito por um policial federal sem competência para procedimentos periciais. Hein?
O relatório da polícia italiana é ainda menos incisivo quanto ao cometimento de algum crime: diz que a mão do empresário encostou levemente nos óculos do rapaz.
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É exigir demais da sociedade pretender que não aponte um problema de imagem em meio a tantos problemas com imagens. Ele é consequência das excepcionalidades que se acumulam ao arrepio da publicidade desejável em questões de elevado interesse público.
Embora o que realmente importa não seja como a gente se vê, nem como os outros veem a gente, mas como a gente realmente é, as imagens das autoridades se refletem na imagem do Estado. Transcendem, portanto, às pessoas dos detentores de poder.
Outro dia escrevi que nenhuma agência de publicidade convidaria o ministro Alexandre de Moraes para participar de uma campanha contra o discurso de ódio. Embora ele tanto fale sobre o assunto, o modo como fala contrasta com a mensagem. É uma questão de imagem. O ministro pode ser sereno como água de poço, mas a imagem pública não é essa.
Por outro lado, se a agressão ocorreu na forma da denúncia, que fique clara minha convicção: isso não se faz. Não foi o que aprendi e não é o que ensino. Quem quer mudança tem tarefas mais úteis: faça política para valer, organize núcleos conservadores e/ou liberais, ocupe espaços na vida social, interaja com os congressistas, com os partidos de sua cidade, com as lideranças locais e estaduais. Vá aos órgãos de comunicação de sua comunidade. Escreva, fale, participe de modo qualificado e útil. Não consinta nem silencie. Não seja omisso como um Pacheco da vida. Use as redes sociais, seja um bom cidadão, identifique e estude os males de nosso modelo institucional. Principalmente, saia do sofá! O Brasil seria outro se houvesse maior e mais útil participação de seus cidadãos; já seria outro há mais tempo, também, se nas grandes manifestações dos anos anteriores, para cada eleitor que a elas compareceu outros 96 não tivessem ficado em casa.
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