por Roberto Mota
Apenas 8% dos homicídios cometidos no país têm o seu autor identificado. Menos de 2% dos milhões de assaltos cometidos no Brasil são esclarecidos
O“consenso” da opinião pública brasileira sobre o combate ao crime e o tratamento de criminosos é moldado e controlado pelo pensamento de esquerda. É claro que a maioria das pessoas — inclusive juristas e policiais — não se dá conta disso. Mas até a linguagem usada para descrever a realidade do crime é selecionada pelos “progressistas” para que o debate seja enquadrado e resolvido em seus próprios termos.
Apontar as ideias erradas desse debate, corrigir a linguagem e desmistificar o falso “consenso” é a minha missão.
Comecemos pela linguagem.
Repetidas vezes, nas últimas décadas, a população brasileira, ao se sentir ameaçada pela crise de criminalidade sempre crescente (exceção feita ao período de 2019 a 2022), se manifestou pedindo “paz”. Mas alguém ameaçado pelo crime não precisa de paz; o que essa pessoa precisa é de segurança.
Tornaram-se tradicionais as manifestações contra a “violência” no Rio de Janeiro. Eram atos em que as pessoas se vestiam de branco; em certa ocasião memorável, centenas delas deram as mãos para formar um “abraço” ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas — em nome da “paz”.
O impacto dessas ações na redução dos índices de criminalidade foi, claro, nenhum. Parece óbvio, mas, no debate sobre segurança pública, o óbvio precisa ser lembrado com frequência: criminosos não se importam com a opinião pública. O criminoso não fica comovido porque suas vítimas potenciais estão vestidas de branco. O pedido de “paz”, por mais comovente que seja, não vai mudar os planos do sequestrador, do assaltante ou do agressor sexual.
O Brasil é provavelmente o único país do universo que permite a um estuprador, quando chega à penitenciária, usufruir do benefício das visitas íntimas
Conforme já explicou o grande psiquiatra forense Stanton Samenow no seu livro A Mente Criminosa, o criminoso decide cometer o crime porque ele não se importa com o sofrimento dos outros. A cor da roupa da vítima não mudará sua opinião.
Precisamos prestar atenção às palavras. Elas expressam ideias. Se as palavras usadas são erradas, as ideias transmitidas serão erradas também.
De nada adianta pedir “paz” a criminosos. Isso é uma atitude ingênua, mas que tem consequências sérias. Manifestações “pela paz” dão a impressão de que algo está sendo feito para combater o crime. Não está.
Os manifestantes de branco, que pedem paz de uma forma tão comovente, continuam expostos ao mesmo risco de serem vítimas do crime que corriam antes. Nada mudou.
Ao invés de tomar, ou exigir que sejam tomadas, medidas concretas, que efetivamente reduzam os índices de criminalidade, as pessoas enganam a si mesmas acreditando que declarações de amor ao universo, canções e flores terão qualquer utilidade como proteção contra o criminoso violento que as espera na esquina, no ônibus ou na saída da escola.
Percebam também o equívoco de usar a palavra “violência” quando a palavra certa seria crime. O que assusta os brasileiros não é a violência. O que assusta os brasileiros é o crime.
Crime e violência são coisas bem diferentes. Um crime pode, ou não, envolver violência. O crime de corrupção não envolve violência alguma. Por outro lado, muitas vezes a violência não significa crime. Um caso típico é quando a polícia tem de usar violência exatamente para deter um criminoso. Se um grupo de bandidos invade a sua casa e faz você e a sua família de reféns, a primeira estratégia da polícia será tentar negociar a rendição dos criminosos. A segunda alternativa será usar a violência, de forma planejada, para libertar você e sua família.
Por que os ativistas progressistas, que monopolizam o debate sobre segurança pública, insistem tanto em usar a palavra violência quando o termo correto seria crime?
Porque violência é um termo genérico.
Todo crime tem um autor, o criminoso, que precisa ser punido. Mas quando se fala de violência, a tendência é espalhar a culpa por toda a sociedade.
A culpa da “violência” é da cultura patriarcal, dos jogos on-line, da “forma com a qual a sociedade contemporânea se organiza”. Não há nenhum culpado a ser identificado ou punido. A solução para essa suposta “violência” é a “criação de uma cultura de paz”, seja lá o que isso significa.
Geralmente isso significa vestir branco, carregar flores e cantar a música Imagine, de John Lennon, esperando, com isso, convencer a sociedade a ser menos “violenta”.
Converse com um policial experiente. Ele vai te contar inúmeras histórias de dor e sofrimento de pessoas que foram vítimas de criminosos. Preste atenção a essa última frase: as pessoas não foram vítimas da “violência”; elas foram vítimas de criminosos.
Uma parte importante da agenda dos “progressistas” é eliminar qualquer tipo de punição contra esses mesmos criminosos. Parece inacreditável, mas essa estratégia está fartamente documentada no meu livro A Construção da Maldade. É por isso que a legislação penal do Brasil fica cada vez mais fraca, e os benefícios para os criminosos são cada vez maiores. O Brasil é provavelmente o único país do universo que permite a um estuprador, quando chega à penitenciária, usufruir do benefício das visitas íntimas.
Repetindo: no Brasil, o criminoso que estuprou uma ou várias mulheres, ao chegar à prisão, depois de condenado, tem direito garantido a fazer sexo com um visitante de sua escolha.
Quando você para o carro no sinal e um criminoso coloca uma arma na sua cabeça, você não está sendo vítima da “violência”. Você está sendo vítima de um crime; o criminoso é um indivíduo, com nome e sobrenome, cuja punição deveria ser proporcional à gravidade do crime que ele comete.
Não é isso que acontece no Brasil. Em nosso país, em 2023, ainda reina a impunidade.
Apenas 8% dos homicídios cometidos no país têm o seu autor identificado. Menos de 2% dos milhões de assaltos cometidos no Brasil são esclarecidos. Colocando de outra forma: a chance de sucesso de um assaltante no Brasil é de 98%.
Os dois criminosos responsáveis pelo sequestro, pela tortura e pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, no Rio de Janeiro, ficaram presos apenas cinco e sete anos, respectivamente. Os criminosos que arrastaram o menino João Hélio pelo asfalto até a morte já estão todos em liberdade há muito tempo. Um deles, por ser menor de idade, ficou internado para cumprimento de “medidas socioeducativas” por três anos. Quando recobrou a liberdade, teve sua mudança e a de toda sua família para o exterior pagas por uma ONG de direitos humanos, porque estava se sentindo ameaçado. Em um episódio mais recente, um chefão de uma das principais facções criminosas do Brasil foi colocado em liberdade e imediatamente fugiu do país. Na sequência, um helicóptero, uma lancha, um Porsche e duas mansões foram devolvidos a ele.
Esse Brasil é a criação da mentalidade “progressista”, que diz lutar contra a “violência”, mas é incapaz de culpar e punir criminosos. Um país que não consegue condenar o criminoso moralmente jamais conseguirá condená-lo judicialmente.
São os “progressistas” que querem nos convencer a vestir branco e pedir paz.
Na verdade, o que o Brasil precisa é justamente o oposto: precisamos declarar guerra aos criminosos — tanto os criminosos violentos que circulam nas ruas quanto os criminosos corruptos que infestam a política.
Nunca esqueça disso: o problema do Brasil não é a “violência”. O problema do Brasil é uma crise sem fim de criminalidade, cuja raiz está na impunidade generalizada.
É uma raiz “progressista”, vestida de branco.
Revista Oeste
publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2023/04/a-paz-dos-criminosos-por-roberto-mota.html
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