Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

'O Agronegócio não é fascista',

 por Branca Nunes e Artur Piva

Altamente sustentável, o setor é a grande aposta para garantir a segurança alimentar num mundo que deve ultrapassar ainda neste ano os 8 bilhões de habitantes


“Fascista e direitista”. Foram essas as duas palavras que o ex-presidente Lula usou para resumir um universo que reúne 20 milhões de brasileiros, movimenta R$ 3 trilhões por ano e alimenta mais de 800 milhões de pessoas em cerca de 200 países. A declaração, dada durante a sabatina do candidato petista ao Planalto no Jornal Nacional, pode ter duas explicações: má-fé ou o completo desconhecimento de um dos setores que mais movimentam a economia do país.

“Lula não é ingênuo, muito menos estava desprevenido”, afirma Christian Lohbauer, presidente da CropLife Brasil, associação de empresas de defensivos agrícolas. “Como ele sabe que boa parte do público do agronegócio não lhe pertence, repete as frases que ele acha que podem conquistar os eleitores urbanos.”

Na mesma entrevista, o ex-presidente repetiu outro dos grandes mitos que envolvem o agronegócio brasileiro: “A nossa luta contra o desmatamento faz com que eles sejam contra nós”. Na verdade, o agronegócio do Brasil é altamente sustentável e a grande aposta para garantir a segurança alimentar num mundo que deve ultrapassar ainda neste ano os 8 bilhões de habitantes.

Os produtores rurais são os verdadeiros responsáveis pela preservação ambiental. Hoje, dos cerca de 565 milhões de hectares cobertos por matas nativas (dois terços do país), mais de 280 milhões de hectares estão dentro de fazendas, sítios e demais propriedades rurais, distribuídos em matas ciliares e áreas de preservação permanente. A responsabilidade por essas reservas, incluindo os custos, fica a cargo dos proprietários.

“Chamar o agronegócio brasileiro de fascista denota uma profunda ignorância”, disse Antônio Cabrera, ministro da Agricultura entre 1990 e 1992. “Benito Mussolini, ditador italiano que primeiro implantou esse sistema, afirmou: ‘Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado’.  Isto é o oposto do que é o agronegócio, setor que trabalha essencialmente em uma economia de mercado, e não em uma economia planejada. O setor procura cada vez mais destacar a sua sustentabilidade, haja vista que preservamos mais de 65% de nossas matas nativas.”

Preservar custa dinheiro

Ricardo Arioli Silva, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), lembra que a legislação ambiental se aplica a todos os proprietários, independentemente do tamanho das terras. “Os produtores estão deixando um legado para as futuras gerações, que são as áreas de preservação permanente dentro das propriedades”, afirma.

Em sociedade com o irmão Rogério, Ricardo tem plantações e cria gado em quase 3 mil hectares em Mato Grosso. Ele calcula que a família possui R$ 8 milhões investidos apenas em áreas dedicas à preservação dentro das suas terras.

Preservação do meio ambiente e altos índices de produtividade andam de mãos dadas

De acordo com o Código Florestal, os produtores rurais brasileiros precisam preservar de 20% a 80% da propriedade, dependendo da região do país em que ela está localizada — a média fica em 50%. Segundo a Embrapa Territorial, o patrimônio pessoal e fundiário dos produtores imobilizado em benefício do meio ambiente gira em torno de R$ 3,5 trilhões. Só com a manutenção e a conservação dessas terras, são gastos cerca R$ 15 bilhões por ano, pagos do próprio bolso, em aceiros, cercas, serviços de vigilância, plantios, etc.

Os produtores rurais brasileiros são obrigados por lei a preservar, em média, 50% da propriedade | Foto: Shutterstock

Eis a verdade

“Lula fez uma declaração totalmente equivocada”, afirmou Normando Corral, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso. “O fascismo é um sistema ditatorial. Nunca tinha visto se referirem ao produtor dessa forma. No calor da disputa eleitoral, que neste ano está muito radical, ele fez uma acusação inverídica e inconsequente. Essa fala demonstra um enorme desconhecimento do que acontece na agropecuária.”

A verdade não dita por Lula é que a degradação ambiental não é feita por quem vive da terra. Preservação do meio ambiente e altos índices de produtividade andam de mãos dadas. Um dos exemplos é a técnica de Integração Lavoura-Floresta-Pecuária, que está se disseminando no território nacional. Esse tipo de manejo intercala agricultura, florestas plantadas e criação de bovinos no mesmo espaço, o que regenera o solo e melhora a qualidade da produção.

Ao conhecer esse tipo de manejo, em 2021, o inglês Alok Sharma, que presidiu a Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas daquele ano, disse que o mundo precisa dessa inovação. “Estou falando aqui da Embrapa Cerrados, nos arredores de Brasília, onde tecnologias inovadoras e de baixo carbono estão ajudando a aumentar a produtividade agrícola brasileira, ao evitar o desmatamento prejudicial e criando empregos verdes para os brasileiros”, afirmou, em vídeo publicado no Twitter.

Alimentando sem exclusão

Na prática, 8% do território nacional é usado para a agricultura e 21% para a pecuária. Com essa fatia, o agronegócio brasileiro consegue alimentar a população do país e ainda sobra para enviar comida ao restante do mundo. “Os candidatos à Presidência poderiam usar a campanha para mostrar como o agronegócio é fundamental para o mundo”, acredita Lohbauer. “É preciso levantar outros temas. Nos últimos 40 anos, por exemplo, o preço da cesta básica caiu em média 5% ao ano graças ao aumento da produtividade.”

Fazenda de café no Brasil | Foto: Shutterstock

A clientela é multiétnica e multinacional. A safra do país se espalha por todos os continentes do globo. Ela chega até mesmo à cozinha da missão brasileira na Antártida. Graças ao setor, foram alimentados judeus em Israel, muçulmanos na Palestina, budistas no Japão, protestantes nos Estados Unidos, católicos na Itália, hindus na Índia, etc. Também não houve distinção política, uma vez que o Partido Comunista da China precisa da colheita do Brasil para os chineses não passarem fome. Mesmo os governos de Cuba, Venezuela e Argentina não enxergaram o “fascismo” que Lula viu nos alimentos brasileiros que chegaram até eles: 2,5 milhões de toneladas, somando os três.

Conforme mostram os dados do Ministério da Economia, o volume enviado pelo setor ao restante do globo no ano passado chega a 206 milhões de toneladas. Um pouco menos que isso foi usado para alimentar os mais de 210 milhões de brasileiros.

Ciclo virtuoso no Brasil

O mais recente Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento registra que o mercado interno deve consumir 140 milhões de toneladas de grãos e 20 milhões de toneladas de carne neste ano. Essas quantias equivalem a 55% e 70% das respectivas produções nacionais desses segmentos. Além disso, as populações local e internacional foram abastecidas com cosméticos, combustíveis e energia verde gerados graças às matérias-primas e aos insumos produzidos nas fazendas do país.

Esse ciclo virtuoso foi responsável por quase 30% do Produto Interno Bruto em 2021, o que equivale a aproximadamente R$ 3 trilhões. Essa cadeia produtiva, atualmente, emprega 20% da mão de obra ocupada no país, sem exclusão de cor, sexo, religião ou condição social.

Campo de trigo na Região Sul do Brasil | Foto: Shutterstock


Revista Oeste



























publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2022/09/o-agronegocio-nao-e-fascista-por-branca.html


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