Fascismo e comunismo se apresentam como inimigos, mas são irmãos gêmeos, nascidos no mesmo berço revolucionário e assassino do marxismo Roberto Motta
“Há uma diferença entre o Hitler e o Stálin que
precisa ser devidamente registrada.
Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stálin lia os
livros antes de fuzilá-los. Essa é a grande diferença.
Estamos vivendo, portanto, uma pequena involução,
estamos saindo de uma situação stalinista
e agora adotando uma postura mais de viés fascista,
que é criticar um livro sem ler.”
Fernando Haddad, ministro da Educação do governo Lula,
em audiência na Comissão de Educação do Senado,
em 30 de maio de 2011
Talvez seja justo — e historicamente correto — dizer que ditadores não seguem nenhuma ideologia. A única ideia que os move é a permanência no poder. Ainda assim, não deixa de ser importante entender as origens das ideologias totalitárias que transformaram vidas humanas em espetáculos de morte, sofrimento e miséria.
Essas ideias ainda enganam muitos tolos, com suas promessas de utopia implantada a ferro e fogo — promessas que sempre terminam nos paredões de fuzilamento ou em campos de concentração.
As ideias totalitárias entram em confronto umas com as outras. É a versão planetária daquilo que, aqui no Brasil, ficou conhecido como o teatro das tesouras: uma falsa disputa entre duas forças políticas muito semelhantes, que competem uma com a outra, em busca dos mesmos objetivos. Elas não são inimigas; elas são concorrentes.
Assim ocorre com o suposto confronto entre fascismo e comunismo. Não existe confronto. Existe competição. O fascismo se originou do comunismo; é uma variante do mesmo vírus autoritário.
Confrontos entre comunistas e fascistas são meras disputas de poder entre monstros totalitários. Para os líderes fascistas e comunistas, as ideias são irrelevantes. Os seres humanos também.
Mas vamos começar do início.
Quem acompanha a mídia — brasileira e internacional — faz logo uma descoberta surpreendente: os partidos e os políticos de esquerda agora são chamados de “centro” ou “centro-esquerda”. E qualquer força política que se oponha a essa “centro-esquerda” agora é automaticamente chamada de extrema direita.
Mas essa não é uma representação correta da realidade.
Na verdade — e ainda que isso desagrade a muita gente —, o mundo é hoje dividido entre duas visões de organização política, econômica, social e moral da sociedade: a visão da esquerda e a visão da direita.
Não existe nenhuma “terceira via”.
Nas democracias modernas, a esquerda é formada por comunistas, socialistas e socialdemocratas. Nessas mesmas democracias, a direita é formada pelas forças que se opõem à esquerda: conservadores, liberais e libertários.
E os extremos?
A extrema esquerda é formada pelos elementos radicais de esquerda, que também são socialistas ou comunistas.
A diferença entre a esquerda e a extrema esquerda não é de natureza, é de intensidade. Dizendo de outra forma: a extrema esquerda quer exatamente as mesmas coisas que a esquerda — partido único, ditadura do proletariado, fim da propriedade privada, coletivização e estatização da economia. A diferença é que, enquanto a esquerda obedece — mais ou menos — às regras do jogo democrático (até chegar ao poder, claro), a extrema esquerda prega e pratica abertamente diversas formas de violência, como ameaças a opositores, distúrbios de rua, “ocupações”, assassinatos, terrorismo e guerrilha (o enfrentamento armado ao Estado).
Mas, na direita, a situação é completamente diferente.
A diferença entre a direita e o que se convencionou chamar de “extrema direita” não é de intensidade, mas de natureza.
O pensamento político e as práticas das correntes políticas de direita nada têm a ver com o que se convencionou chamar de “extrema direita”.
É fácil constatar isso: a direita moderna é formada por conservadores, liberais e libertários. Todas essas correntes de pensamento têm como foco o indivíduo. Todas elas consideram os direitos à vida, à liberdade e à propriedade como direitos naturais sagrados.
Fascismo e comunismo têm o mesmo objetivo: colocar no poder um pequeno grupo que goza de poder absoluto, enquanto a maioria da sociedade é reduzida à servidão e à pobreza mais absoluta
Todas as correntes de pensamento da direita pregam um Estado enxuto, cuja função principal é garantir os direitos do indivíduo — direitos que foram dados pelo Criador, não pelo Estado — e interferir o mínimo possível na vida e na iniciativa privadas. Isso é exatamente o oposto do que pregam as ideologias chamadas de “extrema direita” como fascismo e nazismo.
É justo, então, perguntar como fascismo e nazismo podem ser “de direita” se o seu ideário — totalitário, ultraviolento, coletivista e adorador do Estado — não tem nenhum ponto em comum com o ideário dos conservadores, dos liberais ou dos libertários que formam a direita.
Como uma corrente política pode ser chamada de “extrema direita” se, para começo de conversa, nem de direita ela é?
Isso levou muitos pensadores e autores a questionarem se fascismo e nazismo têm, realmente, algo a ver com a direita, ou se são, na verdade, simples variantes do totalitarismo de esquerda. Por exemplo, no seu livro Sobre Moeda e Inflação, o economista Ludwig von Mises se refere ao “nacional-socialismo” como “a versão alemã do comunismo”.
Essa linha de argumentação encontra sustentação em elementos inquestionáveis: as inúmeras semelhanças entre as doutrinas fascista e comunista; o passado socialista de Mussolini, o líder italiano inspirador do fascismo; e o fato histórico, facilmente comprovável, de que nazismo é uma abreviatura do termo alemão que significa “nacional-socialismo”, ou socialismo nacional. O nome completo do partido nazista alemão era Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. O nome diz tudo. Por que algum partido se denominaria socialista, se não o fosse?
Confirmações dessa tese vêm de locais improváveis, como o livro Regras Para Radicais, do ativista norte-americano de esquerda Saul Alinsky, guru de toda a esquerda moderna. Alinsky admite que “alguns grupos da extrema esquerda foram tão longe no círculo político que se tornaram indistinguíveis da extrema direita”.
O fenômeno descrito por Alinsky acontece porque a “extrema direita” é, na verdade, uma variante da extrema esquerda. De “direita”, mesmo, ela não tem nada.
A filosofia política da direita privilegia o indivíduo e sua liberdade, e limita o Estado ao papel de garantidor dos direitos fundamentais. Uma “extrema direita” levaria esses conceitos ao seu limite, pregando — quem sabe? — a eliminação total do Estado e uma liberdade individual quase ilimitada.
Uma extrema direita verdadeira seria uma versão radical do libertarianismo, jamais uma doutrina totalitária e assassina como o fascismo.
São óbvios os inúmeros pontos em comum entre os regimes comunistas e fascistas: glorificação do Estado, desprezo pelo indivíduo e seus direitos, coletivização forçada, partido único e uso da violência — campos de concentração, tortura, tribunais de exceção, assassinato de opositores — como instrumento de ação política.
A única diferença entre o fascismo e o comunismo é que o fascismo fuzila inocentes em nome da “raça”, enquanto o comunismo fuzila em nome da “classe”.
Para quem é fuzilado, isso não faz diferença alguma.
O confronto entre comunismo e fascismo, longe de representar um conflito entre ideologias opostas, é apenas a disputa monstruosa entre dois regimes totalitários assassinos, competindo pelo monopólio do poder. É um fato histórico a aliança entre comunistas soviéticos e nazistas alemães no início da Segunda Guerra Mundial. Através da assinatura do pacto Ribbentrop-Molotov, comunistas e nazistas dividiram a Europa entre eles. O pacto foi finalmente violado pela Alemanha. Se dependesse dos comunistas, a aliança com os nazistas teria perdurado até hoje.
Fascismo não é o oposto, e muito menos o contrário do comunismo; na verdade, é sua alma gêmea. Fascismo e comunismo são monstros gerados do mesmo ovo de serpente. Ambos têm o mesmo objetivo: colocar no poder um pequeno grupo que goza de poder absoluto, enquanto a maioria da sociedade é reduzida à servidão e à pobreza mais absoluta.
Fascismo e nazismo nada têm a ver com o pensamento da direita moderna — o pensamento liberal de Hayek e Mises, o pensamento conservador de Burke e Kirk ou as ideias libertárias de Walter Block e Hans-Hermann Hope. Ao contrário: os maiores oponentes dos regimes totalitários, nos dias de hoje, são exatamente os liberais e os conservadores (no campo político, principalmente esses últimos).
Repetindo: as pautas principais da direita moderna são a defesa da liberdade, da autonomia e da independência do indivíduo, a defesa dos direitos naturais — principalmente direito à vida, à propriedade e à autodefesa — e a rejeição a todo tipo de tirania e coletivismo. Portanto, diz a lógica mais básica, nenhum movimento político que viole esses princípios pode ser considerado “de direita”.
Por definição, não existe conservador extremista. É impossível a existência de uma “extrema direita conservadora”, pelo simples fato de que, se é extrema, não é conservadora.
Por isso, da próxima vez que um comunista — ou socialista ou “progressista”— tentar usar os crimes do fascismo para atacar a direita, explique isso a ele: fascismo nada tem a ver com direita. Fascismo é um regime totalitário criado por Mussolini, nascido da costela do comunismo, ao qual está ligado por ideias, políticas, líderes e crimes.
Fascismo, nazismo, comunismo e socialismo são ideologias totalitárias, promotoras do extremismo, do atraso e da miséria, nascidas no mesmo berço e que pertencem, todas elas, à lata de lixo da história.
Fascismo é comunismo com o sinal trocado.
Em uma sociedade informada e consciente, nenhuma dessas duas ideologias deveria ser aceita, promovida ou permitida no jogo político.
publicadaemhttps://revistaoeste.com/revista/edicao-127/por-que-o-fascismo-e-uma-ideologia-de-esquerda/
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