por Fernão Lara Mesquita
Na campanha do Bolsonaro todo mundo diz a besteira que quer na hora que
quer: que eleição sem ele é golpe, que o bandido é que era o herói e por
aí afora. Na do PT, não. Todo mundo só fala o que o chefe manda na hora
que o chefe manda. Ele, sim, pode dizer a besteira que quiser na hora
que quiser: que eleição sem ele é golpe, que os bandidos é que eram os
heróis, que roubar para reelegê-lo não é crime e por aí afora.
Mas tem outra diferença que é fundamental. O Bolsonaro só dura quatro
anos e o PT, como explicou quinta-feira ao El País o comandante José
Dirceu, “vai tomar o poder, é só questão de tempo, o que é muito
diferente de ganhar uma eleição”.
Quando ainda havia imposto sindical qualquer sujeito, mesmo sem seguidor
nenhum, podia abrir um “sindicato”. Bastava ir à “junta”, registrar sua
“marca” e passava a ter o direito de extorquir trabalhadores que nunca
tinha visto ou consultado antes. Daí em diante o único trabalho que
precisava se dar na vida era não perder mais a “eleição” de confirmação
dele próprio como dono do sindicato em assembleias sem voto secreto.
Tinha de ter muito peito pra não votar no “candidato” com ele olhando
pra sua cara porque valia tudo, porrada, ameaça à família, tiro e, pior
que tudo, ser condenado à miséria com todas as portas do trabalho
fechadas pro rebelde.
Velhos hábitos demoram pra morrer. Para o PT é assim que se “faz
política”. No início dos anos 90 o partido prometia “banir a corrupção” e
conquistou suas primeiras prefeituras. E logo se meteu no primeiro
escândalo, denunciado por um de seus fundadores, Paulo de Tarso
Venceslau. Com um esquema controlado por Roberto Teixeira, compadre de
Lula que viria a ser sogro do advogado Cristiano Zanin Martins, que o
defende hoje, mais de 30 anos depois, o PT estava roubando as
prefeituras. Nunca mais parou. O esquema evoluiu para um método de
“tomada do poder” pela destruição da instância eleita pelo povo para
controlar o governo, o Congresso Nacional, que ficou conhecido como
“mensalão”.
Foi por aí, também, que se deu a “afinidade eletiva” entre o PT e a
tribo da nossa “intelectualidade” cuja cultura política parou na Eurásia
dos anos 30 do século 20, onde o poder também era “tomado” pra nunca
mais ser devolvido. Foram eles que deram tinturas ideológicas “cultas” a
essa fome animal do Lula pelo poder e lhe apontaram o caminho do
Gramsci. Por baixo de toda a graxa retórica de que vem lambuzado, o
esquema gramsciano não passa de um projeto monumental de censura.
Trata-se de fechar de tal modo as coisas numa visão única na base do
terrorismo moral que uma geração inteira de alvos preferenciais da
operação – professores, artistas e intelectuais a serem tornados
“orgânicos” – atravesse toda a existência sem tomar conhecimento de nada
que contradiga essa visão, e ir fuzilando midiática ou economicamente
todo mundo que resistir.
O PT fez do Brasil uma Coreia do Norte intelectual. Ninguém em todos os
tempos e em todos os lugares conseguiu fechar tão bem o cerco. Só quem
diz o que o chefe aprova consegue manter-se nas tribunas midiáticas mais
altas ou “brilha” mesmo sem ser brilhante. Com o País prisioneiro da
língua e das redes que só falam português, só o que ele quer mostrar do
mundo passa a existir. Nas vésperas de eleições o barulho e a produção
de factoides tomam um ritmo que torna impossível o raciocínio. E o jogo
de luz e sombra passa a ter uma precisão milimétrica. Nada do que parece
é e nada do que é aparece.
No resto da economia ninguém mais consegue vencer só com esforço. Só vai
pra frente quem o dono do poder escolher para “dar” alguma coisa ou
poupar da aplicação da lei que passa a ser escrita para ter efeito
necrosante instantâneo. Do bolsa família ao bolsa megaempresário, do
prêmio artístico ao financiamento das obras que vão concorrer a ele, a
ordem é “para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei”.
A classe média meritocrática, o cara que se faz sozinho suando a camisa,
passa a ser “detestável”, o inimigo a ser destruído de preferência
fisicamente, como diz Marilena Chaui, intelectual “orgânica” do partido.
O “concursismo” passa a ser o único meio de “vencer na vida”. Nos 14
anos de PT no poder, o numero de funcionários dobrou e o gasto com eles
triplicou. Mas quase todos os Estados, assim como a União, têm mais
deles aposentados com o maior salário das suas curtas carreiras do que
trabalhando. O salário deles aumenta todo ano acima da inflação, chova
ou faça sol, não em função da entrega de resultado, mas da capacidade de
cada corporação de chantagear o País e o próprio governo. A partir de
um limite, o Estado passa a existir só para essa casta, que hoje consome
quase 100% dos 40% do PIB que o governo arrecada, e o resto do País se
desmancha.
Discutir “golpe” a partir de Bolsonaro ou Lula é discutir potência ou
ato, desejo ou realização. Começa que golpe há muito tempo não se dá
mais com militar e tanque. É com aparelhamento do Judiciário e decreto
de juiz que se faz, como Lula não se cansa de ensinar no Foro de São
Paulo. A cinco anos da sentença do mensalão, com o petrolão ainda
bombando, os bandidos estão soltos; os processos da Lava Jato,
esterilizados; e o chefe desacata sentenças de tribunais superiores, e
até do Supremo, de dentro da cadeia e não acontece nada. Do jeito que
vai, morre tudo na praia e Sergio Moro é que acaba na cadeia, conforme a
vingança prometida.
Jair Bolsonaro era a desculpa que faltava para a esquerda honesta, que
desempata essa parada, ser tentada a sentar no colo da bandidagem ao
lado de todos os coronéis ladrões de todos os tempos e de todos os
governos. O Brasil vai precisar de todos os brasileiros decentes para se
curar do lulismo. Eleger o presidente laranja é o fim final do império
da lei e dos poderes dos outros poderes. Por isso, quando for votar
amanhã, não pense nas bravatas da sua juventude. Pense na juventude dos
seus filhos e dos seus netos, porque o Brasil já está do lado de lá e o
que esta eleição vai decidir é só se ainda tem volta.
JORNALISTA
O Estado de São Paulo
extraídaderota2014blogspot
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