Jornalista Andrade Junior

sábado, 29 de outubro de 2022

Heleno: ‘As Forças Armadas não vão apoiar governos socialistas’

 Segundo o ministro-chefe do GSI, os militares brasileiros não se deixariam levar por influências político-ideológicas  Edilson Salgueiro


O curitibano Augusto Heleno, 74 anos, é general da reserva do Exército e ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Durante os 50 anos dedicados às Forças Armadas, Heleno liderou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (2004), foi comandante militar da Amazônia (2009) e chefiou o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.

Fiel escudeiro do presidente Jair Bolsonaro (PL), Heleno acredita que o atual governo deixará um legado positivo ao país. “Temos uma posição de relevo no mundo”, afirmou. “Muitas nações invejam a condição econômica do Brasil, a despeito dos anos atribulados da pandemia. O presidente conseguiu frear a progressão do desemprego e organizou a economia.”

Em entrevista a Oesteo ministro-chefe do GSI comentou as denúncias de irregularidades nas inserções em emissoras de rádio, avaliou o resultado das eleições para o Congresso Nacional, criticou os governos do Partido dos Trabalhadores (PT) e assegurou que as Forças Armadas não darão suporte a eventuais governos socialistas.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

— Como o senhor avalia as denúncias de irregularidades nas inserções de propagandas em emissoras de rádio?

São gravíssimas. Compete ao Tribunal Superior Eleitoral [TSE], junto aos Tribunais Regionais Eleitorais, manter o equilíbrio entre os candidatos. Eles precisam ter acesso ao mesmo número de inserções. O funcionário exonerado teve a coragem de dizer que a entrega do material para as emissoras de rádio estava completamente desorganizada. É uma falha seriíssima do TSE. Isso precisa ser apurado. E, agora, está muito difícil de tomar decisões cabíveis. Será uma decisão tomada em cima das pernas [rápida, sem reflexão]. O presidente da República e o Ministério da Defesa vão decidir a melhor forma de resolver esse assunto.

— Qual é a expectativa do governo para o segundo turno?

As pesquisas que estão aí não têm a menor credibilidade. Elas são pagas, manipuladas. Os dados das pesquisas são arcaicos, não têm validade alguma. As pesquisas estão sendo conduzidas para ter um determinado resultado. Elas querem agradar  quem paga as pesquisas. Mesmo assim, temos evidências do crescimento do prestígio e do apoio ao presidente da República. Há diversos vídeos que mostram as multidões presentes nos eventos com Bolsonaro. Não conseguimos acreditar que tanta gente esteja participando da campanha. Essa é a eleição mais importante do século para o Brasil. Temos dois caminhos a seguir: um deles é absolutamente claro, conduzido por um homem sério, patriota e dedicado. O presidente pensa no Brasil todos os dias. Estou ao lado dele, nunca presenciei nenhuma conversa sobre negociatas e troca de favores. O outro caminho é o da mentira. Não podemos acreditar nessa mentirada que está sendo divulgada pelo Partido dos Trabalhadores. Esse tal de André Janones, um cara completamente irresponsável, tem plantado notícias mentirosas. Está tudo errado. Isso causa sérios malefícios ao país.

— Como o senhor avalia o trabalho do TSE na contenção de “fake news”?

Não considero bom. A exoneração do assessor do TSE é a prova de que o trabalho da Corte Eleitoral é ruim e continuará a ser ruim. Não há tempo para consertar isso. Está claro que, ao que parece, o TSE está a serviço de alguém. A primeira impressão do público é que o TSE tem um lado.

— Em eventual volta do PT ao Palácio do Planalto, o senhor considera que o país flertará com o autoritarismo?

Não quero nem pensar na volta do PT. Para mim, é algo inadmissível. Confio que o povo brasileiro não dará a oportunidade de o mundo assistir ao país eleger um presidente com o passado de Luiz Inácio Lula da Silva. Pensar sobre isso é pensar em uma desgraça antes de ela acontecer.

— Qual é o maior legado do governo Bolsonaro?

Há vários. A situação econômica do Brasil não permite que haja qualquer crítica à gestão do governo Bolsonaro. Muitos países invejam a condição econômica do Brasil, a despeito dos anos atribulados da pandemia. O presidente conseguiu frear o desemprego e organizou a economia. Há também outros legados, como o Marco do Saneamento Básico e a volta da malha ferroviária. O Brasil é um país cujo tamanho não permite que não tenhamos uma malha ferroviária. Esse é um dos pontos de honra do governo Bolsonaro. Há ainda a transposição do Rio São Francisco, que estava abandonada. Os caminhos de água estavam completamente tomados por vegetação e sujeira. Outros pontos positivos: a pavimentação de estradas e as concessões de portos e aeroportos. Estamos nos preparando para evoluir ainda mais economicamente. Se continuarmos com um regime liberal, temos tudo para chegar lá. Precisamos de uma economia aberta e moderna. Isso fará o Brasil ser uma das grandes potências do mundo.

— Na Venezuela, o ex-presidente Hugo Chávez promoveu uma série de generais em seu governo. Posteriormente, os militares daquele país apoiaram o regime ditatorial chavista. Isso poderá ocorrer no Brasil, caso Lula volte ao Palácio do Planalto?

É difícil. A formação dos oficiais das Forças Armadas é muito sólida. A esmagadora maioria do Exército é conservadora, disciplinada. Eles têm o Brasil na cabeça, trabalham pelo país. Os oficiais não se deixam levar por influências político-partidárias. Se houver a pretensão autoritária do PT, tenho certeza de que os petistas encontrarão sérios obstáculos para tentar modificar o pensamento das Forças Armadas. Não penso que serão capazes.

— Como o senhor avalia o resultado das eleições para o Congresso, tendo em vista que o atual presidente elegeu diversos aliados?

Amplamente positivo. O presidente terá um apoio que jamais teve no Congresso Nacional. A grande maioria dos eleitos é brilhante, formada por gente que tem algo a oferecer ao Brasil. Em caso de vitória petista, esses deputados e senadores oferecerão resistência às tentativas de socialização do país. Isso deu errado no mundo inteiro.

— Recentemente, o senhor escreveu um artigo intitulado “A Destruição Que Podemos Evitar”. O que quis dizer?

É algo semelhante ao que aconteceu durante os 14 anos de governo petista. No início de sua gestão, o PT surfou na bonança mundial. Contudo, a partir do momento em que as facilidades econômicas mundiais acabaram, os petistas trocaram os pés pelas mãos. Entregaram um país no qual havia desvios de dinheiro inimagináveis. Não dava para entender como conseguiam desviar tanto dinheiro público. Eles investiram em ditaduras em todo o mundo. Financiaram obras em outros países com o dinheiro do povo brasileiro. Enquanto isso, muitas obras no Brasil ficaram paradas. Preferiram construir o metrô de Caracas ao metrô de Belo Horizonte. Esse conjunto de medidas foi seriamente comprometedor para o futuro do Brasil. Bolsonaro recebeu um país destruído e dedicou-se à recuperação do país. Recuperamos o patriotismo e a economia. Paramos de ter prejuízo em estatais e conseguimos registrar lucros. Exemplo disso é a Itaipu Binacional, que financiava as férias de várias autoridades brasileiras. Agora, a estatal investe em diversos municípios no entorno de Foz do Iguaçu. A Itaipu também fez mais duas pontes entre o Brasil e o Paraguai. A empresa está confortável economicamente. Outras estatais, como os Correios, davam prejuízos absurdos em outros governos. Na atual gestão, os Correios compraram três aviões e facilitaram a entrega de mercadorias. Uma gestão honesta e eficiente permite que estatais deem lucros significativos.

— Como as Forças Armadas avaliam o sistema eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas de primeira geração?

As Forças Armadas devem esperar o fim das eleições para apresentar seu relatório. Não tenho conhecimento dos termos desse documento. Na verdade, o Exército, a Marinha e a Força Aérea têm um corpo de engenheiros altamente competente. Esses militares especialistas e técnicos são formados não apenas no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, que é um símbolo de eficiência e qualidade, como também pelo Instituto Militar de Engenharia, altamente reconhecido pela população brasileira. Temos mentes capazes de diagnosticar o que acontece nas eleições. O Exército sempre acompanhou as eleições. Os pleitos não pertencem a um ou dois partidos. As eleições são do país, do Estado, do Brasil. O processo de fiscalização precisa ser muito bem conduzido.

— Como o atual governo lida com as críticas de ambientalistas?

Essa história de proteção ambiental é uma injustiça. O Brasil é exemplo de proteção ambiental. Podemos preservar ainda mais a Amazônia? Sim, mas não é fácil. Para ter uma ideia, a Amazônia é do tamanho da Europa Ocidental. É difícil ter controle sobre a região, até mesmo pela escassez de moradores. A Amazônia tem cerca de 30 milhões de habitantes, número muito baixo para sua extensão territorial. Entendemos que a Amazônia precisa ser fortemente povoada por pessoas com pleno conhecimento do que é o aproveitamento da região. Conseguiremos fazer isso de maneira sustentável. O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira é do Brasil. Não queremos ninguém fazendo loteamento para potências estrangeiras.

— Qual foi a maior dificuldade do governo neste primeiro mandato?

Estávamos esperançosos em 2019, porque tudo estava andando como o previsto. A situação era excepcional. Aí, apareceu a pandemia. Houve uma desvirtuação no comando da gestão da crise sanitária. O Supremo Tribunal Federal entregou as decisões para os prefeitos e para os governadores. Mesmo assim, como Bolsonaro é preocupadíssimo com o Brasil, criou o auxílio emergencial. Assim, neutralizou parte dos efeitos da crise econômica. Conseguimos sair da pandemia de maneira gloriosa. O mundo inteiro está impressionado com o fato de o país ter superado esses problemas. É claro que a pandemia foi uma crise gravíssima, e todos lamentamos as mortes que ocorreram. Essas mortes aconteceram por razões circunstanciais, não por desleixos políticos. É difícil transformar o serviço de saúde do país em um serviço de saúde de guerra. Esse foi o caso.

— Em eventual reeleição, como será o governo Bolsonaro?

Em situação normal, teremos resultados impressionantes. A situação geopolítica mundial fez do Brasil um ator muito mais importante. O país tem enorme extensão territorial, grande população, alta produção de alimentos. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia está mostrando uma situação geopolítica seriíssima no leste da Ásia. Essa região é onde provavelmente haverá um conflito bélico importante. Temos a Rússia, a China, a Índia, as duas Coreias, o Japão, a Austrália. Isso fará com que o potencial do Brasil seja mais bem aproveitado.












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