Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

"O problema se chama Bolsonaro"

 J.R. Guzzo:


É possĂ­vel que o presidente tenha mais voto que os adversĂĄrios — e os seus inimigos polĂ­ticos jĂĄ decidiram que ele nĂŁo pode ganhar  


Eis aĂ­: o governo Bolsonaro acaba de completar trĂȘs anos e começa a entrar na sua reta final. Tanto se fala desse governo, mas tanto, que atĂ© parece, Ă s vezes, que o Brasil nunca teve outro. Mas teve, com toda a certeza, e vai ter outros ainda — o prĂłximo, por sinal, jĂĄ daqui a um ano, com as eleiçÔes presidenciais de 2022. EstĂĄ nisso, a propĂłsito, o começo, o meio e o fim de toda a discussĂŁo polĂ­tica do Brasil neste momento. Falam, falam, falam, mas a questĂŁo Ă© essa; nĂŁo adianta fingir que nĂŁo Ă©. Quem vai ganhar o raio da eleição? Jair Bolsonaro vai continuar presidente por mais quatro anos, atĂ© 2026?

Em condiçÔes normais de temperatura e pressĂŁo, uma eleição a mais nĂŁo deveria ser dificuldade nenhuma. Afinal, Ă© assim que o paĂ­s vem escolhendo os seus presidentes, com eleiçÔes livres e diretas, desde 1989 — quando chegou Ă  conclusĂŁo de que o homem certo para o cargo era Fernando Collor. Mas as condiçÔes de temperatura e pressĂŁo nĂŁo sĂŁo normais neste momento; na verdade, sĂŁo tudo, menos normais. O motivo dessa desordem Ă© um sĂł: uma parte do mundo polĂ­tico do Brasil, justamente a parte que faz mais barulho, nĂŁo aceita, simplesmente nĂŁo aceita a ideia de que Bolsonaro possa ser reeleito. E a democracia? É o diabo. Democracia tem esse grande inconveniente: ganha quem tiver mais voto. É possĂ­vel que Bolsonaro, se for mesmo candidato, tenha mais voto que os adversĂĄrios — e os seus inimigos polĂ­ticos jĂĄ decidiram que ele nĂŁo pode ganhar. Como Ă© que fica, entĂŁo? Ainda nĂŁo estĂĄ claro como vĂŁo resolver essa charada.

Bolsonaro nĂŁo Ă© visto por seus inimigos como um competidor, mas como um mal que nĂŁo pode ser permitido

Bolsonaro deveria ganhar ou perder de acordo com os resultados concretos que o seu governo conseguiu durante os trĂȘs anos que acaba de completar no PalĂĄcio do Planalto. Nada mais simples, nĂŁo Ă© mesmo? De duas uma. Ou o governo foi bom ou o governo foi ruim, na opiniĂŁo dos brasileiros que vĂŁo votar em outubro de 2022; tambĂ©m Ă© possĂ­vel que nĂŁo tenha sido nem uma coisa nem outra. Muito bem. Se os eleitores acharam que Bolsonaro fez um bom governo, eles vĂŁo votar nele outra vez; se acharam que fez um mau governo, vĂŁo votar nos adversĂĄrios. Se nĂŁo acharem bom nem ruim, a decisĂŁo vai depender do grau de entusiasmo que os outros candidatos conseguirem despertar na população. É assim que deveria ser, se houvesse de fato uma democracia no Brasil; mas nĂŁo Ă© assim que estĂĄ sendo. Bolsonaro nĂŁo Ă© visto por seus inimigos como um competidor, numa disputa que serĂĄ decidida pelo povo. É visto como um mal que nĂŁo pode ser permitido. “O paĂ­s nĂŁo aguenta” – esse Ă© argumento final que se usa contra ele. A Constituição nĂŁo diz nada a respeito disso — se o paĂ­s aguenta ou nĂŁo aguenta. Mas a frase virou um salmo das Santas Escrituras da esquerda, do “centro liberal” e das suas vizinhanças.

Temos, no momento, os mais extremados esforços para combater os “atos antidemocrĂĄticos”, banir do noticiĂĄrio e das redes sociais as “notĂ­cias falsas” que agradam ao governo e expulsar da vida polĂ­tica, atĂ© com a prisĂŁo, elementos tidos como um perigo para as “instituiçÔes”. Temos, mesmo, um inquĂ©rito ilegal no Supremo Tribunal Federal para tratar desses assuntos todos — ilegal, mas em pleno funcionamento. O pior atentado que estĂĄ sendo cometido nesse momento contra a democracia, porĂ©m, Ă© visto como a coisa mais normal do mundo; Ă© a negação dos direitos polĂ­ticos e civis do presidente da RepĂșblica, a quem se nega a possibilidade de reeleger-se para o cargo, ou mesmo de ficar onde estĂĄ atĂ© o final do seu mandato. “NĂŁo dĂĄ para aguentar atĂ© as eleiçÔes” — Ă© o que se diz, todo santo dia, na mĂ­dia, nas classes intelectuais e nessa elite de Terceiro Mundo, a la brasileira, que vai dos empreiteiros de obras pĂșblicas aos banqueiros infelizes com o governo. É, como se demonstra atravĂ©s dos fatos, ato “antidemocrĂĄtico” direto na veia. Mas Ă© contra Bolsonaro, e se Ă© contra Bolsonaro vale tudo.

O fato Ă© que a sociedade tem diante de si, de hoje a outubro do ano que vem, toda a oportunidade para julgar, concretamente, o que Bolsonaro fez em seus primeiros trĂȘs anos — e, com base nisso, decidir se ele deve ficar mais quatro anos ou ir embora para casa. É possĂ­vel, examinando os fatos e dando a todo brasileiro a oportunidade de expressar os seus sentimentos atravĂ©s do voto, considerar que Bolsonaro foi um presidente bom, um presidente razoĂĄvel, um presidente ruim, um presidente pĂ©ssimo, o pior presidente da histĂłria e assim por diante. SĂł nĂŁo se pode negar que ele Ă© o presidente escolhido pela maioria dos eleitores brasileiros em 2018 — mais exatamente, 58 milhĂ”es de pessoas. NĂŁo se pode negar, da mesma maneira, o direito dos eleitores de elegerem, em 2022 ou em qualquer eleição futura, quem melhor entendam para a PresidĂȘncia da RepĂșblica.

O Ășnico dinheiro que existe no governo Ă© dinheiro que vem diretamente do seu bolso

É esse o risco que os adversĂĄrios de Bolsonaro, ou os que falam mais alto entre eles, nĂŁo querem correr. Mais quatro anos com esse homem, alĂ©m dos quatro originais, Ă© algo que uma parte do Brasil nĂŁo admite; todo o seu astral, no conjunto, Ă© definitivamente incompatĂ­vel com ele. Eis aĂ­ o centro do problema; se sĂŁo mundos incompatĂ­veis, nĂŁo dĂĄ para haver convĂ­vio entre os dois. A mĂ­dia, por exemplo — a sua alma, o seu mundo mental e os seus interesses tĂȘm uma espĂ©cie de intolerĂąncia quĂ­mica, ou genĂ©tica, a Bolsonaro. SĂŁo Leste e Oeste, como diria o poema de Kipling, e nunca irĂŁo se encontrar. NĂŁo ajuda em absolutamente nada, Ă© claro — ao contrĂĄrio, Ă© uma dificuldade fatal —, que hĂĄ trĂȘs anos inteiros a imprensa nĂŁo receba dinheiro federal em verbas de publicidade. Nada de Banco do Brasil, Caixa EconĂŽmica, Petrobras e outros Ă­dolos da esquerda brasileira; nem um tostĂŁo em anĂșncios. Detalhe? É difĂ­cil que seja. Essas verbas somam centenas de milhĂ”es de reais, quando adicionadas de um ano para outro; fazem diferença, sim, senhor.

A “publicidade oficial” Ă© hoje, foi ontem e sempre serĂĄ um escĂąndalo; por isso faz tanto sucesso no mundo oficial deste paĂ­s. Trata-se de transferĂȘncia direta de renda do pagador de impostos para o bolso dos donos dos veĂ­culos de comunicação. Pagador de impostos, sim — vocĂȘ mesmo e todo mundo que vocĂȘ conhece. NĂŁo existe dinheiro “do Banco do Brasil”, nem “da PetrobrĂĄs”; empresa estatal nĂŁo tem dinheiro. O Ășnico dinheiro que existe no governo Ă© dinheiro que vem diretamente do seu bolso. Como dito acima, sĂŁo montanhas a pagar e a receber; nĂŁo Ă© possĂ­vel sumir com uma fortuna dessas e os prejudicados nĂŁo sentirem nada. Mais: esses prejudicados sabem perfeitamente que se Bolsonaro for reeleito vai continuar sendo assim; ao mesmo tempo, sabem igualmente bem que se os adversĂĄrios ganharem a festa vai recomeçar na hora. Olhe um pouco para os governadores de Estado; estĂŁo pagando os olhos da cara aos ĂłrgĂŁos de imprensa, na forma de verbas de publicidade, e Ă© exatamente isso que a mĂ­dia espera do prĂłximo governo federal. NĂŁo pode, portanto, ser Bolsonaro de novo. Se nĂŁo for ele, todo esse desespero de ataques que se vĂȘ hoje na mĂ­dia vai desaparecer na hora; em vez disso, vai haver a mesma compreensĂŁo e apoio que a imprensa dĂĄ hoje aos governos estaduais. (A propĂłsito: a revista Oeste nĂŁo aceita nenhum tipo de publicidade paga pelo governo. Nenhum tipo, e de nenhum governo — federal, estadual ou municipal, diretamente ou atravĂ©s de empresas estatais.)

HĂĄ tambĂ©m a abstinĂȘncia que inferniza a vida dos grandes agentes da corrupção nacional; Ă© um problema dramĂĄtico, para eles, estar hĂĄ trĂȘs anos sem ver dinheiro do ErĂĄrio. É obvio que sempre que houver uma repartição pĂșblica haverĂĄ gente tentando roubar; a diferença Ă© se o governo aceita (estimula?) ou nĂŁo aceita o roubo. É obvio, tambĂ©m, que dinheiro pequeno sempre rola aqui e ali; mas essa gente toda, claro, estĂĄ interessada em dinheiro grande. Nessa ĂĄrea estĂĄ dando tudo errado. No Ășltimo episĂłdio que veio a pĂșblico — um contrato de R$ 600 milhĂ”es entre o Banco do Nordeste e uma ONG, que jĂĄ vinha de anos — a diretoria inteira do banco foi demitida assim que o presidente manifestou a sua estranheza com a histĂłria. Por que tanto dinheiro assim com uma “ONG”? No Brasil de sempre uma histĂłria dessas acabaria com o Banco do Nordeste fazendo uma nova licitação, de 1 bi e 200; iriam dobrar a aposta. Como Ă© possĂ­vel achar, diante dessas novidades, que milhares de “agentes polĂ­ticos” estejam felizes? NĂŁo estĂŁo. EstĂŁo odiando. Quem quer perder 600 milhĂ”es?

HĂĄ o problema, enfim, de que o Brasil de Bolsonaro vai exatamente na contramĂŁo do mundo totalitĂĄrio, coletivista e politicamente correto que cresce solto por aĂ­ afora — o mundo em que a fada da Cinderela Ă© negro e gay, ou em que os cientistas sĂŁo proibidos de discutir o “aquecimento global” ou os efeitos da “cloroquina”. Bolsonaro nĂŁo apenas Ă© o presidente deste Brasil que nĂŁo gosta da eliminação das diferenças de sexo entre crianças, acredita em Deus e defende a famĂ­lia; Ă©, certo ou errado, o grande sĂ­mbolo de todos esses valores, convicçÔes e crenças.

É difícil que apareçam, nisso tudo, possibilidades reais de entendimento e tolerñncia.


Revista Oeste


















publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2021/10/jr-guzzo-o-problema-se-chama-bolsonaro.html

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