J.R. Guzzo:
Ă possĂvel que o presidente tenha mais voto que os adversĂĄrios — e os seus inimigos polĂticos jĂĄ decidiram que ele nĂŁo pode ganhar
Eis aĂ: o governo Bolsonaro acaba de completar trĂȘs anos e começa a entrar na sua reta final. Tanto se fala desse governo, mas tanto, que atĂ© parece, Ă s vezes, que o Brasil nunca teve outro. Mas teve, com toda a certeza, e vai ter outros ainda — o prĂłximo, por sinal, jĂĄ daqui a um ano, com as eleiçÔes presidenciais de 2022. EstĂĄ nisso, a propĂłsito, o começo, o meio e o fim de toda a discussĂŁo polĂtica do Brasil neste momento. Falam, falam, falam, mas a questĂŁo Ă© essa; nĂŁo adianta fingir que nĂŁo Ă©. Quem vai ganhar o raio da eleição? Jair Bolsonaro vai continuar presidente por mais quatro anos, atĂ© 2026?
Em condiçÔes normais de temperatura e pressĂŁo, uma eleição a mais nĂŁo deveria ser dificuldade nenhuma. Afinal, Ă© assim que o paĂs vem escolhendo os seus presidentes, com eleiçÔes livres e diretas, desde 1989 — quando chegou Ă conclusĂŁo de que o homem certo para o cargo era Fernando Collor. Mas as condiçÔes de temperatura e pressĂŁo nĂŁo sĂŁo normais neste momento; na verdade, sĂŁo tudo, menos normais. O motivo dessa desordem Ă© um sĂł: uma parte do mundo polĂtico do Brasil, justamente a parte que faz mais barulho, nĂŁo aceita, simplesmente nĂŁo aceita a ideia de que Bolsonaro possa ser reeleito. E a democracia? Ă o diabo. Democracia tem esse grande inconveniente: ganha quem tiver mais voto. Ă possĂvel que Bolsonaro, se for mesmo candidato, tenha mais voto que os adversĂĄrios — e os seus inimigos polĂticos jĂĄ decidiram que ele nĂŁo pode ganhar. Como Ă© que fica, entĂŁo? Ainda nĂŁo estĂĄ claro como vĂŁo resolver essa charada.
Bolsonaro nĂŁo Ă© visto por seus inimigos como um competidor, mas como um mal que nĂŁo pode ser permitido
Bolsonaro deveria ganhar ou perder de acordo com os resultados concretos que o seu governo conseguiu durante os trĂȘs anos que acaba de completar no PalĂĄcio do Planalto. Nada mais simples, nĂŁo Ă© mesmo? De duas uma. Ou o governo foi bom ou o governo foi ruim, na opiniĂŁo dos brasileiros que vĂŁo votar em outubro de 2022; tambĂ©m Ă© possĂvel que nĂŁo tenha sido nem uma coisa nem outra. Muito bem. Se os eleitores acharam que Bolsonaro fez um bom governo, eles vĂŁo votar nele outra vez; se acharam que fez um mau governo, vĂŁo votar nos adversĂĄrios. Se nĂŁo acharem bom nem ruim, a decisĂŁo vai depender do grau de entusiasmo que os outros candidatos conseguirem despertar na população. Ă assim que deveria ser, se houvesse de fato uma democracia no Brasil; mas nĂŁo Ă© assim que estĂĄ sendo. Bolsonaro nĂŁo Ă© visto por seus inimigos como um competidor, numa disputa que serĂĄ decidida pelo povo. Ă visto como um mal que nĂŁo pode ser permitido. “O paĂs nĂŁo aguenta” – esse Ă© argumento final que se usa contra ele. A Constituição nĂŁo diz nada a respeito disso — se o paĂs aguenta ou nĂŁo aguenta. Mas a frase virou um salmo das Santas Escrituras da esquerda, do “centro liberal” e das suas vizinhanças.
Temos, no momento, os mais extremados esforços para combater os “atos antidemocrĂĄticos”, banir do noticiĂĄrio e das redes sociais as “notĂcias falsas” que agradam ao governo e expulsar da vida polĂtica, atĂ© com a prisĂŁo, elementos tidos como um perigo para as “instituiçÔes”. Temos, mesmo, um inquĂ©rito ilegal no Supremo Tribunal Federal para tratar desses assuntos todos — ilegal, mas em pleno funcionamento. O pior atentado que estĂĄ sendo cometido nesse momento contra a democracia, porĂ©m, Ă© visto como a coisa mais normal do mundo; Ă© a negação dos direitos polĂticos e civis do presidente da RepĂșblica, a quem se nega a possibilidade de reeleger-se para o cargo, ou mesmo de ficar onde estĂĄ atĂ© o final do seu mandato. “NĂŁo dĂĄ para aguentar atĂ© as eleiçÔes” — Ă© o que se diz, todo santo dia, na mĂdia, nas classes intelectuais e nessa elite de Terceiro Mundo, a la brasileira, que vai dos empreiteiros de obras pĂșblicas aos banqueiros infelizes com o governo. Ă, como se demonstra atravĂ©s dos fatos, ato “antidemocrĂĄtico” direto na veia. Mas Ă© contra Bolsonaro, e se Ă© contra Bolsonaro vale tudo.
O fato Ă© que a sociedade tem diante de si, de hoje a outubro do ano que vem, toda a oportunidade para julgar, concretamente, o que Bolsonaro fez em seus primeiros trĂȘs anos — e, com base nisso, decidir se ele deve ficar mais quatro anos ou ir embora para casa. Ă possĂvel, examinando os fatos e dando a todo brasileiro a oportunidade de expressar os seus sentimentos atravĂ©s do voto, considerar que Bolsonaro foi um presidente bom, um presidente razoĂĄvel, um presidente ruim, um presidente pĂ©ssimo, o pior presidente da histĂłria e assim por diante. SĂł nĂŁo se pode negar que ele Ă© o presidente escolhido pela maioria dos eleitores brasileiros em 2018 — mais exatamente, 58 milhĂ”es de pessoas. NĂŁo se pode negar, da mesma maneira, o direito dos eleitores de elegerem, em 2022 ou em qualquer eleição futura, quem melhor entendam para a PresidĂȘncia da RepĂșblica.
O Ășnico dinheiro que existe no governo Ă© dinheiro que vem diretamente do seu bolso
Ă esse o risco que os adversĂĄrios de Bolsonaro, ou os que falam mais alto entre eles, nĂŁo querem correr. Mais quatro anos com esse homem, alĂ©m dos quatro originais, Ă© algo que uma parte do Brasil nĂŁo admite; todo o seu astral, no conjunto, Ă© definitivamente incompatĂvel com ele. Eis aĂ o centro do problema; se sĂŁo mundos incompatĂveis, nĂŁo dĂĄ para haver convĂvio entre os dois. A mĂdia, por exemplo — a sua alma, o seu mundo mental e os seus interesses tĂȘm uma espĂ©cie de intolerĂąncia quĂmica, ou genĂ©tica, a Bolsonaro. SĂŁo Leste e Oeste, como diria o poema de Kipling, e nunca irĂŁo se encontrar. NĂŁo ajuda em absolutamente nada, Ă© claro — ao contrĂĄrio, Ă© uma dificuldade fatal —, que hĂĄ trĂȘs anos inteiros a imprensa nĂŁo receba dinheiro federal em verbas de publicidade. Nada de Banco do Brasil, Caixa EconĂŽmica, Petrobras e outros Ădolos da esquerda brasileira; nem um tostĂŁo em anĂșncios. Detalhe? Ă difĂcil que seja. Essas verbas somam centenas de milhĂ”es de reais, quando adicionadas de um ano para outro; fazem diferença, sim, senhor.
A “publicidade oficial” Ă© hoje, foi ontem e sempre serĂĄ um escĂąndalo; por isso faz tanto sucesso no mundo oficial deste paĂs. Trata-se de transferĂȘncia direta de renda do pagador de impostos para o bolso dos donos dos veĂculos de comunicação. Pagador de impostos, sim — vocĂȘ mesmo e todo mundo que vocĂȘ conhece. NĂŁo existe dinheiro “do Banco do Brasil”, nem “da PetrobrĂĄs”; empresa estatal nĂŁo tem dinheiro. O Ășnico dinheiro que existe no governo Ă© dinheiro que vem diretamente do seu bolso. Como dito acima, sĂŁo montanhas a pagar e a receber; nĂŁo Ă© possĂvel sumir com uma fortuna dessas e os prejudicados nĂŁo sentirem nada. Mais: esses prejudicados sabem perfeitamente que se Bolsonaro for reeleito vai continuar sendo assim; ao mesmo tempo, sabem igualmente bem que se os adversĂĄrios ganharem a festa vai recomeçar na hora. Olhe um pouco para os governadores de Estado; estĂŁo pagando os olhos da cara aos ĂłrgĂŁos de imprensa, na forma de verbas de publicidade, e Ă© exatamente isso que a mĂdia espera do prĂłximo governo federal. NĂŁo pode, portanto, ser Bolsonaro de novo. Se nĂŁo for ele, todo esse desespero de ataques que se vĂȘ hoje na mĂdia vai desaparecer na hora; em vez disso, vai haver a mesma compreensĂŁo e apoio que a imprensa dĂĄ hoje aos governos estaduais. (A propĂłsito: a revista Oeste nĂŁo aceita nenhum tipo de publicidade paga pelo governo. Nenhum tipo, e de nenhum governo — federal, estadual ou municipal, diretamente ou atravĂ©s de empresas estatais.)
HĂĄ tambĂ©m a abstinĂȘncia que inferniza a vida dos grandes agentes da corrupção nacional; Ă© um problema dramĂĄtico, para eles, estar hĂĄ trĂȘs anos sem ver dinheiro do ErĂĄrio. Ă obvio que sempre que houver uma repartição pĂșblica haverĂĄ gente tentando roubar; a diferença Ă© se o governo aceita (estimula?) ou nĂŁo aceita o roubo. Ă obvio, tambĂ©m, que dinheiro pequeno sempre rola aqui e ali; mas essa gente toda, claro, estĂĄ interessada em dinheiro grande. Nessa ĂĄrea estĂĄ dando tudo errado. No Ășltimo episĂłdio que veio a pĂșblico — um contrato de R$ 600 milhĂ”es entre o Banco do Nordeste e uma ONG, que jĂĄ vinha de anos — a diretoria inteira do banco foi demitida assim que o presidente manifestou a sua estranheza com a histĂłria. Por que tanto dinheiro assim com uma “ONG”? No Brasil de sempre uma histĂłria dessas acabaria com o Banco do Nordeste fazendo uma nova licitação, de 1 bi e 200; iriam dobrar a aposta. Como Ă© possĂvel achar, diante dessas novidades, que milhares de “agentes polĂticos” estejam felizes? NĂŁo estĂŁo. EstĂŁo odiando. Quem quer perder 600 milhĂ”es?
HĂĄ o problema, enfim, de que o Brasil de Bolsonaro vai exatamente na contramĂŁo do mundo totalitĂĄrio, coletivista e politicamente correto que cresce solto por aĂ afora — o mundo em que a fada da Cinderela Ă© negro e gay, ou em que os cientistas sĂŁo proibidos de discutir o “aquecimento global” ou os efeitos da “cloroquina”. Bolsonaro nĂŁo apenas Ă© o presidente deste Brasil que nĂŁo gosta da eliminação das diferenças de sexo entre crianças, acredita em Deus e defende a famĂlia; Ă©, certo ou errado, o grande sĂmbolo de todos esses valores, convicçÔes e crenças.
Ă difĂcil que apareçam, nisso tudo, possibilidades reais de entendimento e tolerĂąncia.
Revista Oeste
publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2021/10/jr-guzzo-o-problema-se-chama-bolsonaro.html
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