Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 25 de novembro de 2025

A farsa dourada de Janjolândia

   Alex Pipkin, PhD em Administração


      Conta-se que, há muito tempo — embora os habitantes jurem que tudo aquilo parecia acontecer diariamente — havia um reino pitoresco chamado Janjolândia, cuja bandeira ostentava, sem pudor, vermelho, verde e amarelo, como se anunciasse ao mundo que ali a fantasia gozava de mais autoridade do que a realidade.

Ali reinava Sua Majestade Perdularius I, um bom-mocista convicto cuja maior virtude — e orgulho público — era gastar. Gastava com a leveza irresponsável de quem trata o amanhã como simples abstração incômoda.

Sua principal atividade, além de posar como benfeitor perpétuo, era angariar dinheiro. Naturalmente o dos outros, porque gastar o próprio seria um desperdício de majestade. Aliás, no DNA dele e de seus conselheiros palpitava uma lógica invertida. Ao invés de proteger o erário, protegiam os próprios bolsos, recheando-os com o suor dos contribuintes.

Perdularius I reinava amparado por conselheiros que jamais haviam aberto um livro de economia, mas falavam com ar professoral sobre “bem-estar social financiado pelo universo”. Cochichava-se nos corredores do palácio que seu principal assessor econômico ostentava um doutorado na extinta Economia Soviética Aplicada à Utopia. Evidente, uma honra suprema entre os que confundem estatização com sabedoria. Inspirado por tais luminares, Perdularius fazia promessas inalcançáveis. Com a costumeira astúcia, mantinha-se no poder justamente porque discursava contra a pobreza para mantê-la, e, assim, justificar a própria permanência.

Certo dia, teve uma epifania iluminada. Reuniu seus sábios, ajeitou a coroa e proclamou, com a grandiloquência típica dos que confundem delírio com política econômica:
— A dívida pública ultrapassará 100% do que o reino produz, mas não há problema algum. Se faltar dinheiro, imprimimos mais!

Os conselheiros explodiram em aplausos, como se presenciassem uma nova física. A imprensa, que não era imprensa, mas sucursal do partido, celebrou a frase como ciência revolucionária, mais avançada que a roda.
E assim seguiram. A cada novo gasto perdulário, surgia um novo imposto; a cada novo imposto, um novo pretexto para gastar ainda mais. Em Janjolândia acreditava-se, com devoção quase litúrgica, que quanto mais o Estado devorava o povo, mais próspero o povo se tornaria. Uma lógica impecável, desde que se abolisse a aritmética básica.

Na vida real, tudo seguia previsivelmente irracional… Quanto mais Perdularius gastava, mais os preços subiam. Quanto mais os preços subiam, mais ele culpava os mercadores gananciosos. E quanto mais culpava os mercadores, mais impostos criava. Para Sua Majestade, não havia dilema econômico que não pudesse ser resolvido com a solução mais singela — e mais destrutiva — de todas: tributar mais, mais e mais, como se o bolso do súdito fosse um poço sem fundo e a paciência humana, um recurso infinitamente renovável.

Claro, fazia-se tudo isso não para resolver o problema, mas para exibir sua virtude excelsa. Afinal, vivia-se em Janjolândia o apogeu da sinalização virtuosa, onde a aparência de bondade valia mais do que qualquer resultado concreto e útil.

Como toda boa fábula, havia ali uma moral, sussurrada nos becos, feiras e oficinas. Seguramente, reino algum prospera quando o soberano gasta como um poeta bêbado, desses que se jactam de nunca terem estudado, que assassinam a língua portuguesa diariamente, embora bêbados de fato sejam. Na Janjolândia se cobrava impostos tal qual um glutão devora um prato de comida. Mas todos sabiam, embora não pronunciassem: prosperidade nasce de um Estado que pesa menos, cobra menos e deixa o povo trabalhar, produzir e inovar.

Reluzente, o óbvio “lulante”, transparente como água cristalina. Mas uma verdade luminosa demais para ser tolerada naquele reino de virtudes imaginárias, das falácias do coletivismo e da ideologia do fracasso.

Em suma, das mentiras “românticas” e das verdades “romanescas”.














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