Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Venezuela – como chegou a esse ponto?

 Rainer Zitelmann 


Mais um experimento socialista fracassado, mais uma eleição manipulada. A trágica história da Venezuela: como pôde chegar a isso?

No decorrer do século XX, a Venezuela passou de um dos países mais pobres da América Latina para se tornar o mais rico. Em 1970, ela estava entre os 20 países mais ricos do mundo, com um PIB per capita superior ao de Espanha, Grécia e Israel e apenas 13% menor do que o do Reino Unido.

A mudança do destino econômico da Venezuela começou na década de 1970. A partir de 1974, as regulamentações do mercado de trabalho foram reforçadas a um nível que quase não se via em nenhum outro lugar do mundo, especialmente na América Latina. O aumento da intervenção estatal na economia e a regulamentação excessiva levaram à deterioração constante da situação no país que antes era rico.

Mas o exemplo da Venezuela mostra que, quando a situação econômica piora, os eleitores podem optar por uma solução que acaba tornando a situação ainda pior. Muitos venezuelanos depositaram sua fé no carismático líder socialista Hugo Chávez como o salvador que libertaria o país da corrupção, da pobreza e do declínio econômico.

Chávez, eleito presidente em 1998, tinha muitos admiradores entre intelectuais e partidos de esquerda em países ocidentais. Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista britânico de 2015 a 2020, elogiou Chávez como “uma inspiração para todos nós que lutamos contra a austeridade e a economia neoliberal na Europa.”

Graças às reservas de petróleo da Venezuela — as maiores do mundo — e à explosão dos preços do petróleo que coincidiu com a presidência de Chávez, enchendo os cofres de seu governo, seu experimento em grande escala com o socialismo do século XXI começou de maneira promissora, embora acabasse descendo para um desastre econômico, hiperinflação, fome e ditadura.

Em 2007, numa tentativa de garantir uma participação controladora de pelo menos 60% nas empreitadas petrolíferas venezuelanas para a PDVSA, o governo de Chávez forçou as empresas petrolíferas estrangeiras a aceitarem participações minoritárias ou enfrentar a nacionalização. Quando Chávez assumiu o poder, mais de 50% dos lucros da produção de petróleo iam para o governo. No momento de sua morte, em 2013, a participação governamental, que ultrapassava 90%, era uma das mais altas do mundo.

Após sua reeleição em 2006, Chávez começou a nacionalizar um número crescente de empresas industriais, começando pelas indústrias de ferro e aço. A seguir, o governo tomou o controle dos setores de cimento e alimentos, das empresas de energia e dos portos. Só entre 2007 e 2010, cerca de 350 empresas passaram do setor privado para o setor público. Em muitos casos, cargos executivos nas empresas recém-nacionalizadas foram concedidos a membros leais do partido. Com um em cada três trabalhadores empregado no setor público em 2008, a folha de pagamento do governo aumentou drasticamente.

Empresas públicas mal administradas recebiam subsídios generosos, o que lhes permitia manter mais funcionários do que precisavam. O pagamento das receitas de petróleo para um fundo de reserva já havia sido interrompido em 2001, e o investimento na indústria petrolífera — a base do sustento do país — também foi sacrificado em favor de planos sociais cada vez mais ambiciosos. Após a morte de Chávez em 2013, seu sucessor e antigo vice-presidente Nicolás Maduro acelerou a nacionalização de laticínios, produtores de café, supermercados, fabricantes de fertilizantes e fábricas de calçados.

Uma pesquisa de 2016 da Universidade Central da Venezuela descobriu que quatro em cada cinco lares venezuelanos viviam em pobreza. Aproximadamente 73% da população experimentou perda de peso, com a média de perda sendo 8,7 quilos em 2016. Em 2021, 77% da população venezuelana vivia em extrema pobreza.

Chávez havia gradualmente abolido a separação dos poderes. Sob seu sucessor, Nicolás Maduro, o governo tornou-se cada vez mais autoritário. Nos últimos anos, a Venezuela desenvolveu-se cada vez mais como uma ditadura socialista clássica: a elite política é profundamente corrupta. A liberdade de imprensa e a liberdade de reunião existem apenas no papel. A Venezuela ocupa a quarta pior posição no Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional.

Várias instituições das Nações Unidas identificaram evidências de crimes contra a humanidade pelo regime de Maduro em 2020 e 2021. Segundo o ACNUR, quase 8 milhões de pessoas deixaram a Venezuela – o equivalente a um quarto da população. Este é não apenas o maior movimento de refugiados e migração na história recente da América do Sul, mas também há poucas regiões no mundo onde tantas pessoas deixaram seu país.

Todos entendem que Maduro manipulou as eleições, até mesmo o presidente socialista chileno Gabriel Boric. Se não conseguirmos forçar Maduro a recuar, milhões de pessoas em breve irão fugir. O socialismo só funciona a longo prazo se você construir um muro e impedir que as pessoas fujam, assim como na Alemanha Oriental na época.

E como os socialistas ao redor do mundo, que antes elogiavam entusiasticamente o “Socialismo do século XXI” da Venezuela, reagiram? Reagem como sempre após um experimento socialista fracassado: afirmam que “isso não era realmente socialismo”. Mas prometem que na próxima vez funcionará.










PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/venezuela-como-chegou-a-esse-ponto/

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