Jornalista Andrade Junior

sábado, 14 de setembro de 2024

Moedas livres, a desnacionalização do dinheiro

 ANDRÉ PARIS/INSTITUTOLIBERAL


Em um mundo cada vez mais interconectado e digital, a ideia de bancos livres e moeda privada, livre de regulação e controle centralizados dos governos e bancos centrais, torna-se cada vez mais palpável. Inspiradas pelas teorias de Friedrich Hayek sobre a desnacionalização do dinheiro, essas ideias encontram ressonância no crescente interesse e adoção de criptomoedas como o Bitcoin.

Hayek, laureado com o Prêmio Nobel em Economia, foi um defensor proeminente da liberdade econômica e monetária. Em sua obra Denationalisation of Money: The Argument Refined, ele argumenta que a estabilidade econômica poderia ser melhor alcançada permitindo a emissão de dinheiro por instituições privadas em um formato que incentivaria a competição ao invés do monopólio estatal.

Para Hayek, “Não podemos manter uma moeda estável e eficiente se a sua emissão está nas mãos do governo[1]“. Essa visão propõe uma separação completa entre o dinheiro e o Estado, e está alinhada com muitos dos debates atuais sobre criptomoedas e liberdade econômica.

O surgimento do Bitcoin, criado por um indivíduo (ou grupo de indivíduos) sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, é uma realização prática das teorias de Hayek. Em seu manifesto, Nakamoto define o Bitcoin como uma “versão puramente peer-to-peer de dinheiro eletrônico”, que permitiria “transações online serem enviadas diretamente de uma parte para outra sem passar por uma instituição financeira[2]“, o que espelha a visão de Hayek de um sistema monetário descentralizado e competitivo (especialmente com o surgimento de outras criptomoedas).

O Bitcoin, como uma moeda digital descentralizada, não apenas desafia o monopólio estatal sobre a emissão de moeda, mas também permite a proteção da riqueza do indivíduo de expropriações estatais, ainda que indiretas (como é o caso de políticas inflacionárias), de sua propriedade.

Seu sucesso e adoção crescentes refletem um interesse público em alternativas ao sistema monetário tradicional, alinhando-se com as previsões de Hayek sobre a possibilidade e os benefícios de um sistema monetário privado e competitivo.

O livro O Padrão Bitcoin, escrito por Saifedean Ammous, aprofunda-se na visão de uma moeda descentralizada, argumentando que o Bitcoin representa não apenas uma nova forma de dinheiro, mas também um novo padrão monetário. Ammous[3] destaca que, semelhante ao padrão-ouro, o Bitcoin possui uma oferta limitada e não pode ser controlado por entidades centralizadas.

A visão de Ammous ecoa a ideia de Hayek de que a competição entre moedas privadas levaria a uma maior estabilidade monetária e inovação financeira. O Bitcoin, com sua natureza descentralizada, transparente e virtualmente imune à manipulação política, exemplifica essa visão, oferecendo um caso prático de aplicação daquilo imaginado por Hayek.

A ascensão do Bitcoin e outras criptomoedas no cenário financeiro global não apenas desafiam o sistema monetário centralizado, mas também pavimentam o caminho para um futuro no qual o dinheiro é emitido e gerido de forma privada, competitiva e descentralizada.

[1] Hayek, F. A. (1976). “Denationalisation of Money: The Argument Refined”. London: Institute of Economic Affairs.

[2] Nakamoto, S. (2008). “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”.

[3] Ammous, S. (2018). “The Bitcoin Standard: The Decentralized Alternative to Central Banking”. Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.

*André Paris é associado do Instituto Líderes do Amanhã. 








PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/moedas-livres-e-a-desnacionalizacao-do-dinheiro/

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