Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Por que a sociedade está trilhando o caminho da servidão?

 PATRICIA ANTUNES/INSTITUTO LIBERAL


O livro O Caminho da Servidão, escrito por Friedrich August von Hayek, definitivamente não é uma leitura fácil, mas é possível extrair dele uma compreensão profunda sobre o caminho que a sociedade vem trilhando há anos.

Sempre que penso na ideia do socialismo, lembro-me de pessoas que depositam no Estado o poder de planejador central de uma sociedade. Esse é o poder conferido aos governantes para criar e controlar tudo e todos em prol de um suposto “bem maior” ou da “justiça social”, seja lá o que isso realmente signifique. Lembro-me de pessoas que enxergam o Estado como a grande solução de todas as mazelas, a Mãe que abraça e protege os seus filhos.

Ora, cada ser humano vê a vida sob o seu prisma, pois evolui a partir das suas próprias experiências, da forma como foi criado, do local onde nasceu e cresceu, sofrendo também influências de sua família, sua cultura, suas raízes, seus valores e suas crenças. Cada pessoa desenvolve conhecimento através de suas vivências e de sua trajetória pessoal.

O ser humano é extremamente complexo, e o que há de mais precioso nele é justamente essa complexidade e individualidade. Nem mesmo uma mãe superprotetora e amorosa é capaz de traduzir ou compreender inteiramente os sentimentos, vontades, opiniões e ações de seus próprios filhos, pois cada um deles é dotado de complexidades e particularidades.

Como poderia, então, o Estado criar e controlar tudo e todos se o conhecimento, a sabedoria, as vivências e as experiências da sociedade estão dispersos e difundidos por todos os indivíduos? Um grupo de governantes jamais seria capaz de representar, reproduzir ou reunir o conhecimento que os indivíduos possuem. Esse grupo, ou seja, o Estado, nunca conseguiria representar as vontades individuais de cada pessoa.

É por isso que a ideia de coletivismo deve ser refutada, pois, em última instância, quem age é o indivíduo, nunca o Estado. Quando falamos de sociedade, falamos de um emaranhado de forças individuais, uma complexidade de relações humanas e de decisões privadas, que jamais poderia ser substituída por um plano coletivo, já que um planejamento como esse implicaria amplo consentimento de todos os indivíduos.

Conseguimos chegar a um consenso entre os indivíduos até certo ponto, mas nunca em se tratando de temas cruciais e essenciais na vida das pessoas. Sempre haverá vozes dissidentes, diferenças, vontades, crenças e opiniões diversas, e é essa pluralidade que torna o mundo um  local propício para a nossa evolução como seres humanos.

O planejamento central, portanto, isto é, a total intervenção estatal nos moldes que vemos nos sistemas socialistas, só é possível passando por cima dos objetivos dos indivíduos. Não é um sistema estabelecido de forma voluntária, mas sim imposto pela força através da doutrinação das pessoas.

Qualquer espécie de controle através do Estado se traduz em instrumento de governos totalitários, já que, em última instância, o plano que, em princípio, era “coletivo” é utilizado como forma de manipular e submeter a vontade do povo às vontades de um planejador. O governo e a máquina pública acabam tornando-se instrumentos para atender aos interesses de alguns e não do povo.

O “bem comum” e a “justiça social” são apenas termos vagos utilizados como subterfúgio para a tomada de decisões do governo em prol dos interesses dos próprios governantes. Esse é o risco que corremos sempre que o Estado detém o poder em nome dos indivíduos. Na medida em que sobressai a vontade dos governantes, calam-se as vozes dissidentes e perde-se a liberdade individual.

Qualquer semelhança com o que estamos vendo hoje no Brasil não é mera coincidência. O governo tenta regular a mídia, promovendo a censura da população através de projetos de lei para regulação das “fake news“. Jornalistas e cidadãos estão sendo censurados, perseguidos, processados, presos e exilados por exporem suas opiniões publicamente ou protestarem contra as medidas do governo. Pessoas têm medo de se manifestar publicamente contra o governo e contra o Judiciário, temendo retaliações. Estamos vivendo tempos difíceis, uma verdadeira ditadura do Judiciário.

Essas são formas claras da tentativa do governo de obter o controle da população, de forma opressiva, a qualquer custo, atropelando todas as garantias e liberdades individuais. Perde-se também a livre iniciativa, a livre concorrência, na medida em que o governo controla todos os recursos, impedindo a sociedade de avançar tecnologicamente e de criar inovação.

Não há como existir socialismo e liberdade, pois não se tem liberdade para fazer escolhas. Não se tem liberdade para criar, para tomar decisões. Não há diálogo, não há opinião. O indivíduo torna-se apenas um ser que serve ao coletivo, um peão em um ambiente onde sempre prevalece a vontade do planejador.

Quando o governo controla os recursos e pode dizer o que é moral, o que é certo ou o que é errado, abandonamos o Estado de Direito para dar lugar a um governo tirânico disfarçado. A democracia é um meio para defender as liberdades individuais, não coletivas. Quando não há vontades individuais, não há Estado de Direito.

E quando o poder está concentrado nas mãos do governo, não há limite para como e onde esse governo pode interferir na vida dos indivíduos e nas liberdades individuais.

O indivíduo, quando se coletiviza, não se desenvolve como indivíduo. Não desenvolve virtudes. Torna-se um servo do Estado, uma massa de manobra para o plano coletivo do governo. A sociedade só existe quando fortalecemos o indivíduo e preservamos a sua liberdade individual. Só existe desenvolvimento humano na medida em que a pessoa tem liberdade para exercer as suas vontades e ter suas próprias experiências.

Quando se dá espaço para o indivíduo tomar decisões por si mesmo, ele é livre, e somente assim. Do contrário, a exemplo do que ocorre nas sociedades socialistas, o indivíduo encontra-se num estado de servidão.

*Patricia D’Assunção Antunes é Associada II do Instituto de Formação de Líderes de Belo Horizonte (IFL-BH), graduanda em Filosofia pela PUC/MG, Especialista em Direito Empresarial pela PUC/RS, Especialista em Tributação e Contabilidade no Agronegócio pela Associação Paulista de Estudos Tributários – APET, pós-graduada em Contabilidade Tributária pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários – IBET, MBA em Finanças e Controladoria pelo IBMEC, graduada em Ciências Contábeis pela PUC/MG, graduada em Direito pela Universidade FUMEC. 










PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/por-que-a-sociedade-esta-trilhando-o-caminho-da-servidao/






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