Celso de Mello diz que a corrupção se infiltrou nas instituições públicas.
Carolina Brígido - O Globo
“Somos um povo honrado governado por ladrões”. O governo era de Getúlio Vargas. Celso de Mello fez votos para que a frase de Lacerda não reflita a realidade atual. As declarações foram dadas durante o julgamento de um habeas corpus pedido pelo lobista Fernando Baiano, preso na Operação Lava-Jato. O benefício foi negado.
— Este processo de habeas corpus parece revelar um dado absolutamente
impressionante e profundamente preocupante, o de que a corrupção
impregnou-se no tecido e na intimidade de alguns partidos e instituições
estatais, transformando-se em conduta administrativa, degradando a
própria dignidade da política, fazendo-a descer ao plano subalterno da
delinquência institucional — declarou, indignado.
— Honestamente, espero que essa situação denunciada pelo ilustre
tribuno, parlamentar e jornalista (Carlos Lacerda) não esteja se
repetindo no presente momento histórico e no contexto relativo a
recentes administrações federais, pois se trata de um fato que não pode
ser ignorado pela cidadania. A comprovar-se tal prática vergonhosa (os
desvios da Petrobras), estaríamos em face de uma nódoa indelével,
afetando o caráter e o perfil da política nacional. Espero que a frase
de Lacerda não esteja a refletir a realidade presente e não se
desenvolva no sentido de demonstrar que conspícuas figuras
governamentais estejam envolvidas em práticas delituosas — afirmou.
Na mesma sessão, o ministro Gilmar Mendes voltou a dizer que o mensalão
não passou de “processo de pequenas causas” perto dos desvios de
dinheiro da Petrobras. Ele reiterou que os dois esquemas têm a mesma
origem e refletem uma forma de governar. O ministro também apontou “a má
qualidade da gente que compõe o governo”, sem citar nomes.
— Desde já fica muito claro que é difícil separar o chamado mensalão do
petróleo. Parece que eles estão, de alguma forma, consorciados. Podemos
ter algumas diferenças de procedimentos, mas o seu núcleo duro é
idêntico. E também a ideia de que partido e Estado se confundem, quem
está no governo tem que se apropriar das benesses que se possa extrair
do Estado. Um esquema dessa ordem não se instalaria sem uma clara nítida
diretriz política. Estamos diante de uma forma de governança —
declarou.
A Segunda Turma do STF negou o habeas corpus a Baiano por unanimidade. O
relator do processo, ministro Teori Zavascki, e a ministra Cármen Lúcia
também votaram nesse sentido. Os integrantes do colegiado decidiram
manter o lobista preso com base na sua periculosidade, no receito de
reiteração nos crimes e também no papel importante que ele desempenhava
na engrenagem criminosa que desviou dinheiro da Petrobras. O ministro
Dias Toffoli não estava presente.
Fernando Baiano foi preso na operação Lava-Jato em dezembro do ano
passado e continuará na mesma situação por tempo indeterminado. Na
segunda-feira, o juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da
Lava-Jato em Curitiba, condenou Baiano, junto com outros réus, por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A defesa tinha esperança de que
o lobista fosse solto, para poder recorrer da condenação em liberdade.
Na sessão de hoje, o advogado Nélio Machado disse que Moro “rasga a
constituição de forma desmoderada” ao manter seu cliente em prisão
preventiva por tanto tempo.
Em seu voto, Zavascki apontou a relevância de Baiano no esquema
desvendado pela Operação Lava-Jato. Segundo as investigações, o lobista
era responsável pela operacionalização dos desvios de verbas dentro da
diretoria internacional da Petrobras.
Seria dele também a tarefa de repassar o pagamento de propina a autoridades do PMDB.
Para Zavascki, a ordem de prisão for expedida de forma correta no
sentido de “salvaguardar a ordem pública”, diante da “periculosidade
considerável” do réu.
Antes da votação, a subprocuradora-geral da República Debora Duprat
defendeu que Baiano permaneça em prisão preventiva, devido às proporções
do esquema desvendado pela Lava-Jato.
— É uma hipótese típica de necessidade de prisão preventiva. Estamos
diante de uma situação de corrupção de larguíssima escala. As práticas
pela quais o réu foi condenado, de corrupção e lavagem de dinheiro, vêm
ocorrendo desde 2006. Temos oito anos de prática ininterrupta de crime —
argumentou.
extraídaderota2014blogspot





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