editorial de O Globo
A reforma da Previdência tem destaque merecido na agenda do próximo
governo, em função da capacidade de a desatualização das regras do
sistema de seguridade desestabilizar as contas públicas.
Mas a herança de dificuldades nas finanças do Estado brasileiro é
extensa, e por isso a agenda de reformas também é grande. Os escândalos
de corrupção puxados pelo PT e aliados (MDB, PP e outros), e que
envolveram também a oposição (PSDB e DEM), ajudam a denunciar o
esgotamento de um sistema político assentado em mais de 20 partidos com
bancadas no Congresso, em que se consagra o fisiologismo do toma lá dá
cá no arranjo de alianças.
Já a crise econômica histórica instalada em 2014 pela aplicação da
cartilha do nacional-populismo (em torno da qual se aliaram petistas,
brizolistas e assemelhados) pressiona o governo Bolsonaro a fazer
mudanças estruturais que liberem as forças de mercado. Mas antes é
preciso interromper o processo de insolvência do Estado.
É estratégico atualizar a regulação previdenciária, para adequá-la ao
processo acelerado de envelhecimento da população, e desconectar os
mecanismos de injustiça social que existem no sistema. Mas, se reformas
subsequentes não forem realizadas, o risco de se perpetuar este ciclo de
baixo crescimento que se inicia pode ameaçar a imprescindível criação
de vagas no mercado de trabalho, para absorver o contingente de 12
milhões de desempregados que ainda existe.
Neste sentido, é importante manter o teto dos gastos, instituído pela
gestão Michel Temer. Corrigido pela inflação do ano anterior, ele
conseguiu conter a explosão das despesas públicas, detonada pela
irresponsabilidade fiscal de Dilma Rousseff, na ilusão de acelerar a
economia apenas pelo voluntarismo político. Mas o teto, por si só, não é
capaz de relançar a economia como necessário. É preciso desengessar o
Orçamento.
Com a finalidade de garantir verbas para suas áreas, diversos grupos de
interesse, que legitimamente atuam no Legislativo, conseguiram, a partir
da Constituição de 1988, estabelecer percentuais fixos do Orçamento
para a saúde e educação. Enquanto isso, a legislação cartorial tornou
impossível na prática a demissão de servidor público. E, por sua
natureza, os gastos previdenciários são engessados da mesma forma.
A situação piorou com a indexação de várias dessas despesas à inflação
ou ao salário mínimo. Foi assim que ocorreu o paradoxo de, na recessão
de 2015/16, a arrecadação desabar e a despesa crescer. O Estado, então,
apontou em direção à insolvência, tendo um Orçamento da União com 90% do
dinheiro com destino predefinido. Ficou impossível administrar o país,
no real sentido da palavra. Mesmo para resgatá-lo da crise.
Por isso, acabar com estas amarras e aumentos automáticos consta do
programa da equipe de Paulo Guedes. Não deverá ser uma batalha menos
dura que a da Previdência.
extraídaderota2014blogspot




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