por Eduardo Oinegue
Se não houver imprevistos, o próximo presidente da República fará duas
indicações para o Supremo Tribunal Federal. Celso de Mello se aposenta
em 2020; Marco Aurélio Mello, em 2021. Tirando Café Filho e os efêmeros
Carlos Luz e Ranieri Mazzilli, que passaram zerados, os demais 33
presidentes colocaram ao menos um nome no STF. Até mesmo o breve Manuel
Vitorino, vice de Prudente de Moraes, que nomeou três em quatro meses de
interinidade, tanto quanto Fernando Henrique Cardoso em oito anos.
Dos presidentes eleitos diretamente, o campeão é Lula: oito ministros em
oito anos. O último foi José Antônio Dias Toffoli, que nesta
quinta-feira assume a presidência do STF. A posse de Toffoli não é uma
substituição rotineira que acontece a cada dois anos no tribunal. Nos
próximos cinco meses, haverá a troca total de comando nos três poderes
da República. A chegada de Toffoli é a primeira. Cármen Lúcia sai agora;
Michel Temer, em janeiro, e em fevereiro se escolhem os presidentes da
Câmara e do Senado.
O eleitor elege apenas o chefe do Executivo, mas o resultado dessas trocas é vital para o sucesso de qualquer governo. Se os recém-chegados estabelecerem o convívio “independente e harmônico” entre os poderes, previsto na Constituição, o país tem mais chances de avançar. Se mantiverem o ambiente de interferência de um poder nas prerrogativas dos demais, alimentarão o desequilíbrio institucional para o qual, infelizmente, o STF tem contribuído.
Contribuiu, por exemplo, quando Cármen Lúcia proibiu a União de reter
repasses financeiros para o estado do Rio de Janeiro previstos em
contrato para o caso de inadimplência, como aconteceu. Contribuiu quando
Luiz Fux mandou a Câmara dos Deputados votar de novo o pacote de lei
anticorrupção porque entendeu que o regimento da Casa fora
desrespeitado. Contribuiu quando Edson Fachin não ignorou a
representação feita contra a Medida Provisória que reformava o ensino
médio, aprovada tanto na Câmara quanto no Senado. Será que o Executivo e
o Legislativo devem estar submetidos a essa tutela?
Não são dois ou três casos. Para complicar, os ministros trombam entre
si, as turmas se chocam, liminares se contrapõem, jurisprudências se
anulam. Está mais do que na hora de Toffoli e seus colegas refletirem
sobre a qualidade do serviço que oferecem ao país. A sociedade espera da
Alta Corte um norte, uma leitura clara da Carta. Em vez disso, e com
frequência preocupante, recebe interpretações pessoais, como se cada
ministro pudesse escrever e prescrever sua própria Constituição. Na
gestão Cármen Lúcia, o ativismo floresceu. Como agirá o novo presidente?
Há outra frente de trabalho árduo para Toffoli, que assume também a
presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O Brasil é o único
país que organiza sua Justiça com quatro conselhos, não um só. Além do
CNJ, há o Conselho Nacional do Ministério Público, o Conselho da Justiça
Federal e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, todos ordenando
regras e despesas. Essa estrutura bilionária e desfuncional se presta ao
fortalecimento da corporação, mas é um desserviço à sociedade. Toffoli
pode ser lembrado como o primeiro presidente a mudar isso tudo, ou
apenas como o último ministro de Lula.
O Globo
extraídaderota2014blogspot





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