por William Waack
A coluna é dedicada ao que pensam os militares sobre o momento político.
Condensei mais de dezena de longas conversas recentes com oficiais de
alta patente das três armas, quase todos da ativa, incluindo dois
comandantes. Oficiais generais não manifestam qualquer disposição para a
tal “intervenção” militar. Mas se perguntam, sem conseguir responder, o
que fazer se houver rompimento de um tecido social já “esgarçado”
(expressão muito usada por eles). O cenário mais temido é a quebra de
lei e ordem “no caso de uma besteira qualquer do STF beneficiando o
Lula” ou, pior, da reconhecida falta de contingentes para atuar no caso
de greves de PMs ou a paralisação do País por bloqueios simultâneos de
rodovias.
“Achamos que devemos, sim, alertar em público e em privado para perigos e
chamar à razão pessoas com responsabilidades”, diz um interlocutor.
Assim foi entendido, por exemplo, o já célebre tuíte do comandante do
Exército às vésperas do julgamento de um habeas corpus em favor de Lula,
em abril. Oficiais registraram com alívio sinais, vindos de contatos
diretos com integrantes do STF, de que “não haveria surpresas” até o fim
do período eleitoral, o que inclui questões envolvendo a Lei da
Anistia, um ponto descrito como inegociável – boa parte dessa sensação
vem da indicação do general Fernando Azevedo e Silva, até agora no
comando do Estado-Maior do Exército, como assessor do ministro Dias
Toffoli, que assume a presidência do STF. Esse oficial é uma das
principais “cabeças políticas” nas três armas.
Esse “chamado à razão” – na verdade, um alerta e uma advertência –
resulta menos de um cálculo para interferir na política e mais para
“aliviar enorme pressão” vinda de escalões inferiores nas estruturas de
comando. “Você imagine que um maluco de saco cheio com a política
comande um pequeno destacamento bloqueando algum lugar – digamos,
Curitiba – e aí ninguém segura mais nada”, admite-se, por hipótese. “A
fragilidade do atual governo é um absurdo, e a falta de autoridade
também”, comenta-se. “Não dá pra achar que a gente vai salvar políticos
incompetentes desse desastre.”
Oficiais de alta patente já admitem a possibilidade de um presidente
Jair Bolsonaro (“para nós não é mais capitão, é um político civil”), em
relação a quem não mais se declaram refratários, embora lhe atribuam
escassa sabedoria política e pouca capacidade de articulação para
enfrentar um Congresso provavelmente hostil. “Ponto positivo nele é que
talvez ajude a frear essa onda de esquerdização do País”, diz fonte de
alta patente. “Já conseguiu encurralar parte dessa mídia que é a grande
responsável por esse clima.”
O general Heleno é um dos principais canais entre Bolsonaro e setores
superiores da ativa, em que se ouve o palpite de que “Bolsonaro daria um
tiro certo se nomeasse o Heleno seu chefe da Casa Civil, pois tem
cabeça política melhor que a dele, e se pusesse um civil no Ministério
da Defesa”, disse um general de destaque.
Nenhum dos oficiais de alta patente antecipa tranquilidade e
estabilidade pela frente. Acham que há um esforço internacional,
incentivado também pelo PT, de enfraquecer “ainda mais a soberania
nacional”, lamentam que debates sobre segurança e um projeto de País mal
apareçam na campanha, queixam-se de que não há como soldados resolverem
questões de ordem pública, manifestam-se profundamente descrentes da
classe política, mas, também, do Judiciário ser capaz de reverter a onda
de insegurança jurídica (que, apontam, vem de um STF fracionado por
lealdades políticas e pessoais de todo tipo).
Não se furtam a fazer comparações com “a bagunça” que precedeu 1964, mas
não é a que se poderia esperar (intervir para “salvar a democracia”,
por exemplo). “Naquela época, pelo menos, havia estadistas”, disse um
destacado oficial general. “Hoje, este país é um deserto de lideranças.”
O Estado de São Paulo
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