por Dora Kramer O Estado de São Paulo
Ditos só se tornam ditados porque contêm lições preciosas de correntes
de situações já testadas. De onde convém levá-los em consideração na
vida e também na prática da política.
“Quem tudo quer tudo perde” reza sobre o mau posicionamento da ganância
desmedida como conselheira. “Não se pode enganar a todos o tempo todo”
fala a respeito dos malefícios da prepotência e da cegueira soberba ante
o discernimento alheio.
O menosprezo a tais preceitos é uma receita fadada ao desastre mais dia
menos dia, conforme agora pode comprovar o Partido dos Trabalhadores
nesse momento em que o partido se vê diante da cobrança dos equívocos
cometidos ao longo de sua trajetória no governo e na oposição.
A conta salgada hoje impõe ao PT a condição de ente em situação de
inevitável falência. Perda Total parece ser a tradução atual para a
legenda.
Nunca antes na história do Brasil se assistiu a uma derrocada dessas
proporções, notadamente em se tratando de um partido na posse do poder
formal. Os partidos ditos aliados se posicionam dizendo com todos os
effes e os erres que nada querem com o governo.
Cansados de serem tratados como vendidos – o que alguns efetivamente
são, mas que não gostam de ser tratados como tais –, agora dão o troco,
como a dizer: tantas vocês fizeram que agora é a nossa vez de dizer
chega.
Sentimento semelhante toma conta da sociedade, evidenciado na crescente
rejeição ao governo e ao partido. Implicância? Nem de longe. O PT
recebeu do eleitorado brasileiro tudo o que queria e muito mais. Foi
conduzido à Presidência da República quatro vezes, mas não soube honrar
essa delegação.
Entre outros motivos, por um pecado de origem: o partido jamais
compreendeu as normas nem a ele se deu ao trabalho de seguir as normas
da República e da democracia. Uma vez no poder o PT tomou como verdade a
instituição da bandalheira e da impunidade como regra geral. Não viu
que não era assim e sob a direção petista passou a ser. O partido
mergulhou fundo no modelo da podridão, desprezando todas as chances de
se engajar num programa de melhoria institucional.
Ao contrário. Optou por se manter alheio ao movimento pelo fim do regime
militar escolhido pelas demais forças políticas – a eleição de Tancredo
Neves no colégio eleitoral de 1985 –, bombardeou o plano de
estabilidade econômica à revelia da sociedade e depois, quando no poder,
escolheu o populismo aliado ao fisiologismo de Estado para governar.
O partido, seus representantes e governantes mentiram de maneira
afrontosa, estabeleceram um padrão de divisão entre brasileiros
governistas e oposicionistas, entrou de cabeça no “modo gastança” em
detrimento da poupança e agora está paralisado no beco sem saída
aparente que ele mesmo construiu.
Os anteriormente aliados hoje deixam bem claro que querem os petistas
fora do jogo. Razão? O exagero nos gestos e falas de outrora. Tivesse
sido mais cordial com os aliados, talvez o PT não vivesse situação tão
adversa. Na pior das hipóteses, teria ao menos alguém com motivação para
defendê-lo.
Eduardo Cunha – disse algumas vezes e vou repetir – não é causa, é
consequência. Foi eleito porque a maioria dos deputados queria que
fizesse o que está fazendo. Um instrumento para expressar desagrados e
urdir a vingança por anos de imposição da soberba sustentada em altos
índices de popularidade.
Depois da virada a canoa, o cenário é o de um final melancólico, cuja
escrita retrata um final melancólico. Não há mais a opção de mudar como
preconizam os otimistas, pois o sonho transmudado em pesadelo já se
acabou.
extraídaderota2014blogspot





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