Carlos Chagas
Não é de hoje que a sujeira escorre das estruturas do poder público.
Do privado também. Apenas, haverá que estabelecer um marco para não nos
perdermos nas sombras do passado. A roubalheira acentuou-se, não há como
negar, a partir do governo Lula, quando se descobriram o mensalão e
suas fontes de corrupção. De lá para cá, tudo piorou. Suposições e
boatos viram-se substituídos por fatos, denúncias, evidências, provas e
delações envolvendo altos integrantes do Executivo, com ramificações no
Legislativo. E no empresariado.
A Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário cumprem suas
obrigações e vão desbastando o cipoal. Já tem gente presa e condenada.
Mais terá.
O fato novo é que as investigações e as provas chegaram ao
Legislativo. A operação da Polícia Federal, do Ministério Público e do
Judiciário, terça-feira, podem ter espantado desavisados, mas despertou
indignação e perplexidade saber que o senador Fernando Collor dispunha
de pelo menos três automóveis de altíssimo luxo em sua garagem na Casa
da Dinda. Além disso, foram confiscados milhões em espécie, em empresas a
ele ligadas em São Paulo e Alagoas. Haverá como justificar um
patrimônio que excede de muito a banda automobilística? Será possível
que as organizações Arnon de Mello, de comunicação social, de
propriedade do ex-presidente, venham dando tanto lucro assim em meio às
dificuldades crescentes dos congêneres? Pode ser, mas é difícil.
Collor protestou por estar sendo investigado há dois anos e não ter,
até anteontem, recebido qualquer solicitação para explicar-se. Viu sua
residência particular invadida e parte de seus bens recolhidos.
NINGUÉM ACIMA DA LEI
A pergunta é se houve intervenção do Executivo no Legislativo, como
denunciou o presidente do Senado, Renan Calheiros. A resposta é “não”,
pela inexistência constitucional da presença no país de cidadãos de
primeira e de segunda classe. Ninguém está acima da lei. Há outros
senadores sofrendo o mesmo constrangimento, assim como deputados, mas é
preciso verificar que essas operações foram autorizadas por três
ministros do Supremo Tribunal Federal, com acesso aos processos
sigilosos contra parlamentares.
Chega-se à conclusão de que a cada dia que passa mais se iluminam os
porões da sujeira praticada sob a égide do poder público e com a
participação do poder privado. Há investigados, como condenados, em
todos os partidos. Parece provável que também nas estruturas do governo.
A indignação nacional só faz aumentar, abrindo-se o risco de a nação
real dissociar-se da nação formal. Para que votar e participar da vida
política se no fim dá tudo no mesmo, com a corrupção estendendo-se por
todo o conjunto? Claro que há pessoas honestas, no governo, no Congresso
e nas empresas, mas a extensão da sujeira chegou a níveis
inimagináveis.
EXTRAÍDADATRIBUNDADAINTERNET




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