ricardo melo
Primeiro foi a "correção" movida por pressões
religiosas. Depois, uma equipe onde fulguram expoentes conservadores. Nos
bastidores, um movimento ostensivo em direção à banca internacional e aos
chamados socialites. Afinal, de que Marina Silva está se falando?
Com direito a choro e declarações piedosas —"ofereço a outra
face"—, a candidata do PSB culpa opositores de baixar o nível. Todos
estamos cansados de saber que campanhas nunca foram cursos de boas
maneiras. Mas os fatos, na essência, desautorizam os queixumes da candidata
e de seus neodefensores.
Marina foi cria do PT, ministra do governo Lula e
sempre esteve associada às políticas do partido. Agora renega tudo, acusando a
agremiação de ser um covil de corruptos e de indicar assaltantes de estatais.
Embora ela tenha se desligado da legenda, seu marido, Fábio Vaz, permaneceu
como homem forte do governo petista do Acre até a undécima hora. Só largou o
osso pouco antes de a "providência divina" entrar em cena. Mesmo
assim, Vaz diz votar no PT para o governo estadual, partido que Marina
considera uma escola de ladrões.
Nas questões programáticas, em qual Marina acreditar? Além das
erratas iniciais, ela condenava transgênicos; agora não é bem assim. Foi a
favor darevisão da Lei de Anistia, mas isso virou coisa do passado.
Dizia defender os direitos dos trabalhadores; hoje o partido que representa
apoia a terceirização, eufemismo responsável pela dilapidação de conquistas dos
assalariados. E por aí vai.
A escolha de colaboradores tornou-se assunto incandescente. O déjà
vu é amarca registrada da equipe. Economistas como André
"Haras" Resende, que fez fortuna no mercado financeiro
durante o mandarinato tucano, foi chamado a abandonar seus puros-sangues para
ajudar a candidata. Beto Albuquerque, o vice da chapa, é sabidamente ponte com
agronegócio e setores antes satanizados pela outrora ambientalista.
Ocioso falar da banqueira, sua porta-voz, financiadora direta e
herdeira do grupo Itaú. Detalhe: o que mais interessa em Neca Setúbal,
desculpem a intimidade, não é o fato de viver de dividendos da usura descarada
dosistema financeiro. São suas propostas, baseadas na receita que
mergulhou o mundo na mais grave crise desde 1929. Para quem
não sabe, as 20 maiores economias do planeta colecionam hoje mais de 100
milhões de desempregados! Os números, impressionantes e nunca contestados, são
da Organização Internacional do Trabalho.
A resistência da candidata em revelar suas fontes de renda incomoda.
Não vale comparar com o dinheiro recebido por FHC e Lula em palestras...após
seus mandatos. Ao que se sabe, ambos atualmente estão fora de cargos públicos.
Com Marina é diferente: ela é candidata. Candidatíssima. Não cabe ao eleitor se
informar sobre o sustento de quem postula a direção do país? Alegar
"confidencialidade", neste caso, é no mínimo desconfortável.
A grande questão de Marina Silva é definir quem ela é. A conduta
atual conflita com sua biografia pregressa, pelo menos na parte conhecida pelo
público. Isso não é culpa de adversários e opositores nem de temperatura decampanha
eleitoral. Cabe a ela decidir se mantém alguma coerência ou se, como
candidata, será reduzida a uma errata de si mesma





0 comments:
Postar um comentário