APÓIO AÉCIO NEVES 45
• ‘Sobram
razões para temor’
Primeira consequência
das revelações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ao Ministério
Público Federal, na tentativa de garantir benefícios previstos na lei de
delação premiada extensivos aos familiares: o governo, o PT e a
presidente-candidata Dilma Rousseff perderam a bússola no planejamento da
campanha a 26 dias da eleição.
Até a
manhã de sexta-feira, no Palácio do Planalto e no comando do PT debatia-se uma
miríade de táticas regionais para tentar levar Dilma imediatamente a outro
patamar nas pesquisas. O objetivo era reduzir a grande diferença (de sete
pontos percentuais) que a separa de Marina Silva (PSB) na preferência dos
eleitores para a disputa em segundo turno. A vantagem de Marina não é pequena:
equivale à soma do eleitorado dos estados do Centro-Oeste, ou seja, 10 milhões
de votos.
Mudou
tudo, a partir do vazamento de informações sobre as denúncias do ex-diretor da
Petrobras contra políticos do PT, PMDB, PP, PR e PTB. Ontem, de passagem por
São Paulo, a candidata dissimulou e prometeu tomar “providências cabíveis” no
dia em que souber de alguma coisa.
Para o
Palácio do Planalto e o comando do PT, a principal dificuldade agora é como
conter danos à candidatura de Dilma, porque o caso só tende a crescer às
vésperas do pleito(o rito entre a Procuradoria e o Supremo Tribunal Federal
obedece a um calendário de 20 dias para formalização de inquérito, coincidindo
com a semana da eleição.)
Sobram
razões para temor. Entre elas está uma irrefutável linha do tempo: Paulo
Roberto Costa ocupou a Diretoria de Abastecimento da Petrobras — em pelo menos
duas dezenas de ocasiões, foi presidente interino—, durante os nove anos nos
quais Dilma apareceu como a voz de comando na estatal, em sucessivos papéis de
ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração, chefe da
Casa Civil de Lula e presidente da República.
O enredo
protagonizado por Costa e associados começou no governo Lula, em 2003, quando o
chefe da Casa Civil José Dirceu se dedicava à construção da “maior base
política do Ocidente”. Sob patrocínio do PP do então deputado José Janene,
indiciado no mensalão, ele transformou Abastecimento numa diretoria autônoma,
com apoio do então presidente Sérgio Gabrielli, o “embaixador” de Lula na
estatal. Depois, Costa passou a representar um condomínio partidário
(PT-PMDB-PP-PTB-PR) cujo poder de influência nos negócios da Petrobras se
estende do Brasil à África.
A Costa
foi entregue, entre outros, o maior empreendimento da empresa, a construção da
refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Durante sete anos (de 2004 a 2012), ele
e Gabrielli mantiveram sob sigilo o orçamento de contratação de serviços e
equipamentos para essa refinaria, cujos custos subiram nove vezes e até
novembro devem somar US$ 20,1 bilhões. Inúmeras vezes o Tribunal de Contas da
União pediu planos e estimativas de custos, mas só começou a recebê-los no ano
passado. A estatal ocultou até os estudos de viabilidade econômica, técnica e
ambiental do empreendimento.
Costa e
Gabrielli sempre contaram com respaldo governamental. No Congresso, Costa se
tornou conhecido como caso raro de diretor de estatal com bancada própria.
Sabe-se, agora, que eram pelo menos 25 parlamentares federais — entre eles,
caciques do PMDB e do PT fluminenses. Coincidência ou não, alguns figuraram em
episódios investigados na CPI dos Correios — inclusive em manobras com fundos
de pensão estatais —, mas, por variadas razões, ficaram à margem do processo do
mensalão.
Se é
imprevisível a dimensão do impacto das denúncias na disputa presidencial, é
certo que a presidente-candidata passa ao centro do alvo dos adversários.
Certa, também, é a tendência à rápida difusão do caso pelo interior do país: há
7,3 mil candidatos a uma das vagas disponíveis na Câmara e no Senado, e pelo
menos 25 parlamentares federais estão na vitrine, citados por Costa como
beneficiários de propinas.
Até
ontem, vazaram poucos nomes de políticos. No conjunto, o que já é conhecido
sugere algo muito mais amplo do que a listagem de mensaleiros e suas mesadas.
Até porque na Petrobras desvios de quantias inferiores a US$ 10 milhões são
quase um problema menor, de “assuntos internos”. Trata-se de uma empresa com
cerca de cinco mil fornecedores cujos contratos geralmente ascendem a US$ 100
milhões.
O TCU,
por exemplo, há quatro anos investiga superfaturamentos a partir de US$ 400
milhões em contratos de obras, equipamentos e serviços da refinaria de
Pernambuco.
Os
valores manejados por Costa na estatal em benefício do condomínio partidário
governista tendem a pontuar com um tom de escândalo a reta final desta campanha
eleitoral.
(José
Casado - O Gobo)
FONTE DIPLOMATIZZANDO





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