Quando
o governador Tarso Genro anunciou que iria a Cuba com uma caravana de
empresários para comercializar produtos gaúchos, fiquei pensando: como
essas exportações irão perfurar o "terrível bloqueio americano"?
Viajarão de submarino? Chegarão, furtivamente, alta madrugada, a bordo
de pequenos e discretos botes de borracha, vindas de Key West, na
direção inversa à dos cubanos evadidos?
Ironias
à parte, nem Tarso Genro, viu-se agora, acredita no "terrível bloqueio
americano". Esse clichê só é válido quando se torna necessário explicar a
pobreza da ilha após mais de meio século de comunismo e revolução, ao
longo dos quais só se faz, por lá, o que os Castro mandam. Mesmo assim,
Tarso foi a Cuba, com numerosa comitiva, vender produtos do Rio Grande
do Sul ao sonolento mercado daquele país.
Minha
mais recente viagem a Cuba ocorreu em novembro do ano passado.
Mantenho-me atualizado sobre a realidade cubana. Recebo, assiduamente,
informações por meio de amigos que, contornando as dificuldades impostas
pelo regime, se dedicam ao chamado "periodismo independente".
Periodismo independente, para os efeitos ocidentais, é apenas
jornalismo. Em Cuba é diferente. Lá, jornalistas, reconhecidos como tal,
são meros redatores da imprensa oficial. Portanto, tenho informações
atualizadas. E sei que o país não dispõe de dinheiro para coisa alguma. A
famosa "libreta" - caderneta de racionamento criada sob mal-estar
nacional, em 1963 - foi perdendo conteúdo e qualidade. Hoje, quando o
governo cogita em extingui-la, ocorrem protestos populares... Sem a
libreta, muitos cubanos não sobreviveriam.
O
país é muito pobre. A recente abertura para empreendimentos totalmente
privados restringe-se a pequenos serviços, sem efeito perceptível na
morna cadência da vida econômica de um país em que a quase totalidade da
força de trabalho atua no serviço público. Na verdade, o que o governo
fez foi legalizar o velho mercado negro de serviços e os
"cuentapropistas" (trabalhadores por conta própria que há alguns anos
vinham atuando no país). Nesse contexto de pobreza geral, Cuba -
entenda-se, como tal, o governo cubano - não poderia comprar e pagar por
nada que lhe pretendêssemos vender. Não é à toa que os Estados Unidos,
só lhe vende à vista. Darei um exemplo. O vidro dianteiro do taxi que me
levou do hotel ao aeroporto estava totalmente trincado. Creio que se
mantinha no local por docilidade das forças da natureza ao regime.
Perguntei ao motorista por que não o substituíam. Disse-me ele: "Porque no hay ni plata ni reemplazo",
ou seja, não há dinheiro, nem peças de reposição. Note-se que era um
taxi para turistas, propriedade do governo. Segundo o motorista, o vidro
estava assim havia quase um ano e quando ele referia a situação ao
chefe da repartição onde deixava o carro, este lhe respondia que podia
recolher o veículo e abandoná-lo lá.
O
modo de exportar para Cuba encontrado por Tarso Genro foi fazer o
Badesul buscar R$ 40 milhões no BNDES e, com esse montante, financiar as
vendas gaúchas. É um negócio de risco, que jamais seria assumido por um
banco privado, diante da má fama de Cuba no mercado internacional. É o
que me asseguram pessoas conhecedoras desse tipo de operação. Com Cuba?
Nem pensar. De fato, a situação da economia cubana é pior do que a da
Grécia. Os títulos da dívida cubana junto ao Clube de Paris chegam a US$
30 bilhões e estão em situação de calote ou atrasados ( wharton.universia.net
). O país exporta três vezes menos do que importa (indexmundi), o que
mostra a inoperância do seu, digamos assim, parque produtivo. E o
Badesul vai entrar nessa roubada porque a ideologia do governador gaúcho
tem razões que a razão desconhece.





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