PARA LER E REFLETIR. UM EXCELENTE ARTIGO DE PEDRO CORZO TRADUZIDO POR GRAÇA SALGUEIRO
A
ditadura tem praticado de maneira sistemática e permanente variadas
formas de tortura contra os prisioneiros políticos, e também contra um
amplo setor da sociedade.
A
situação dos direitos humanos em Cuba é tão crítica que o Comitê das
Nações Unidas contra a Tortura expressou recentemente preocupação pelo
aumento das detenções arbitrárias e outros atos de perseguição contra
opositores políticos, defensores dos direitos humanos e jornalistas
independentes, porque a tortura é muito mais que o abuso físico a uma
pessoa.
A
entidade manifestou preocupação pelo uso arbitrário de figuras penais
como a “periculosidade” para justificar restrições à liberdade de
movimento, a vigilância invasiva, e os atos de repúdio para a
intimidação e acosso aos quais as autoridades cubanas recorrem.
A
ditadura tem praticado de maneira sistemática e permanente variadas
formas de tortura contra os prisioneiros políticos, e também contra um
amplo setor da sociedade, como deixa apreciar o informe, durante estas
cinco longas décadas de totalitarismo.
Nas
prisões, onde permanentemente se viola a dignidade humana, estes abusos
vão desde o isolamento indefinido, golpes severos, aplicação de
eletro-choques, mudanças drásticas de temperatura nas celas de reclusão,
imersão do detido em um tanque de água, fuzilamentos simulados junto a
pessoas executadas, trabalho forçado em condições inumanas e a aplicação
de pentotal sódico.
O
governo nega essas violações à dignidade humana, porém há inúmeros
testemunhos de homens e mulheres que padeceram a crueldade extrema da
qual os sicários do castrismo são capazes de recorrer, quando querem
destruir uma pessoa para obter informação, ou simplesmente pelo afã de
satisfazer sua alienação mental.
Há
vários anos o produtor cubano, Luis Guardia, dirigiu um documentário do
qual fui produtor, no qual se fazia referência à variedade de métodos
aos quais a ditadura recorre para destruir a dignidade dos detidos.
Por
exemplo, Orestes Pérez, 28 anos na prisão, camponês do Escambray,
sofreu o “submarino”. Preso em Topes de Collantes, lhe atavam a uma
corda com uma pedra, o lançavam a uma lagoa perto e quando estava se
asfixiando o tiravam da água. Essa operação a realizaram várias vezes.
Annete Escandón conta os inúmeros eletro-choques a que foi submetida e
como, do mesmo modo que ela, outros prisioneiros políticos que não
padeciam de transtornos mentais sofreram.
Aurelio
Hernández descreve como lhe aplicaram pentotal sódico para que
confessasse. Nelly Rojas conta os mais de sessenta dias de isolamento a
que foi submetida, e Abel Nieve lembra com dor como foi sepultado em
vida em uma gaveta de cimento no Castillo de Atares por sete dias,
quando tinha apenas dezesseis anos de idade.
O
documentário que contou com a coordenação geral de Francisco Lorenzo,
recolhe muitos testemunhos mais. Evelio Ancheta evoca as cruéis
“Cabañitas” ou Punto X onde ao isolamento se somavam distintos métodos
de tortura, inclusive temperatura ao nível de congelamento ou a
“piscina”, na qual os prisioneiros políticos eram lançados em um saco de
lona até levá-los a beira da asfixia.
Gloria
Argudín tinha menos de 20 anos quando partiu para o Escambray para se
juntar às guerrilhas. Detida, maltratada fisicamente, abandonada no
vazio do último andar do antigo hospital de Topes de Collantes, a
pararam em frente a uma cova, designaram um pelotão de fuzilamento e lhe
dispararam balas de salva. Outros tiveram menos sorte e seus
companheiros foram executados junto deles.
De que a situação não mudou, Oscar Elías Biscet dá testemunho em uma entrevista em que disse: “Uma
das torturas usadas nas prisões cubanas são as solitárias em uns
calabouços minúsculos, totalmente isolados e escuros. Me tiveram lá uma
vez durante cinco meses ininterruptos, sem sair nem um segundo”.
Yurinaris
Hurtado Pérez foi obrigada a se despir por completo na Quinta Unidade
da Polícia de Santa Clara em uma área conhecida como o “Soleador”, um
lugar sem teto e rodeado de escritórios onde só trabalhavam homens.
Hurtado Pérez afirma que todas as Damas de Branco na cidade padeceram
desse vexame.
Alguns
dos métodos descritos foram superados pela crescente habilidade dos
torturadores e pela malícia do sistema, porém o resultado é que a
manipulação, a intimidação e a repressão constante e sistemática é uma
forma muito sutil de tortura que supera os abusos físicos e mentais mais
extremos, porque impede muitas pessoas de ter acesso ao uso pleno de
sua soberania individual.
Concluindo
com alguns aspectos do informe do Comitê das Nações Unidas contra a
Tortura, o integrante da entidade, Fernando Mariño, disse que o
incremento das detenções dos opositores por 24 ou 48 horas sem controle
judicial, nem sequer por parte de uma promotoria é perseguição, e outro
dos membros disse considerar que “o governo de Cuba não distingue os
crimes dos que não o são, senão que se enfoca em distinguir o campo
amigo do inimigo, uma distinção que não se pode aplicar ao tema da
tortura”, afirmação que dá margem para concluir que o castrismo
considera que todo aquele que se oponha pode ser objeto do trato que
consideram necessário, com o objetivo de conservar o poder.
Tradução: Graça Salgueiro





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