Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

'E se o governo mandasse o STF passear?

Pode se dizer com grande margem de segurança que não iria acontecer rigorosamente nada' J.R. Guzzo:

Imagine por um instante — só por curiosidade, certo? (Só por curiosidade; é claro que ninguém aqui está sugerindo nada, pelo amor de Deus, e muito menos qualquer tipo de ato antidemocrático.) Então: imagine por um instante o que aconteceria se um dia desses o presidente da República, ou alguém do seu governo, recebesse a milésima ordem do Supremo Tribunal Federal para explicar “em 48 horas”, ou “três dias”, ou coisa que o valha, por que fez isso ou por que deixou de fazer aquilo, e não desse resposta nenhuma. O que aconteceria, em outras palavras, se dissesse ao ministro Barroso, ou ao ministro Alexandre, ou à ministra Rosa, ou qualquer um dos 11: “Olha, ministro tal, vá para o diabo que o carregue”?

Como nunca aconteceu até hoje, e como nunca o STF mandou o presidente da República explicar seja lá o que fosse em nenhum governo anterior ao atual, não dá para responder com certeza científica; falta, como se diz, a prova da experiência. Mas, pela Lei das Probabilidades, que no fundo vale bem mais que muita lei aprovada por esse Congresso que está aí, pode se dizer com grande margem de segurança que não iria acontecer rigorosamente nada. Claro, claro: a mídia ia ficar enlouquecida, mais do que em qualquer momento do governo de Jair Bolsonaro, e o centro liberal-civilizado-moderno-intelectual-etc. entraria numa crise imediata de histeria. As instituições, iriam gritar todos, as instituições: o que esse homem fez com as nossas sagradas instituições, meu Deus do céu? A Constituição Cidadã está sendo rasgada. A democracia acaba de ser exterminada no Brasil. É golpe. É ditadura militar. Mas seria só uma crise de nervos no mundinho da elite, mais nada. Na prática, e nas coisas que realmente interessam, o governo poderia mandar o STF não encher mais a paciência, pronto — e não mudaria absolutamente coisa nenhuma.

Os colégios chiques continuariam a aumentar as mensalidades, e a chamar seus alunos de alunes

A população, com certeza, estaria pouco se lixando para a indignação do STF, das gangues políticas, da elite meia-boca a bordo dos seus SUVs, das classes pensantes e dos banqueiros de investimento de esquerda; é possível, aliás, que dissesse “bem feito”. Todo mundo iria continuar trabalhando. Os boletos bancários continuariam vencendo. Os ônibus continuariam saindo das rodoviárias. Os serviços de água encanada, energia elétrica e coleta de lixo, nos lugares em que existem, continuariam funcionando. Ninguém iria desmarcar uma consulta médica, nem faltar a um compromisso, nem fazer qualquer coisa diferente. Nenhum país iria romper relações com o Brasil. Os evangélicos iriam ouvir o pastor nas igrejas. Os portos continuariam a embarcar soja. Os colégios chiques continuariam a aumentar as mensalidades, e a chamar seus alunos de alunes. A centésima primeira variante do vírus iria aparecer num canto qualquer. É possível, até, que a Bolsa de Valores subisse. Enfim: a solidariedade, o respeito e o apreço dos brasileiros pelo STF e pelo resto das nossas “instituições democráticas” permaneceriam exatamente onde estão, ou seja, no zero absoluto.

E, de mais a mais, o que os ministros do STF, o Jornal Nacional e todos os demais indignados poderiam fazer na prática? Chamar o Exército para prender o presidente da República? Chamar a PM de Brasília? Chamar a tropa da ONU? Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, esses que estão aí hoje, iriam fazer algum gesto heroico de “resistência”? Rolaria, enfim, o impeachment que não rolou até agora? Lula, o PT e a CUT iriam decretar uma greve geral por tempo indeterminado, até a queda do governo? A verdade é que não existe, na vida como ela é, nenhum meio realmente eficaz para exigir obediência do Executivo se ele não quiser obedecer. Não só do Executivo, por sinal — do Legislativo também não. Ainda outro dia, por exemplo, aconteceu exatamente isso. Foi a primeira vez, mas aconteceu: a ministra Rosa, em mais um desses acessos de mania de grandeza que são a marca do STF de hoje, anulou uma lei aprovada pela Câmara —, e a Câmara não tomou conhecimento da anulação. Tratava-se, no caso, de um projeto que afetava diretamente o bolso dos deputados, entregando a eles bilhões em “emendas parlamentares”. Aí não: a decisão foi ignorada, a lei continuou valendo e depois de muito fingimento de parte a parte, para disfarçar o naufrágio da decisão do STF, ficou tudo como estava.

Não há nenhum sinal, entretanto, de que possa acontecer alguma coisa parecida com a atual Presidência da República. Poucas vezes na história deste país, ou nunca, se viu um governo tão banana quanto o que está hoje no Palácio do Planalto. Tem muita “laive”, passeata de motocicleta e implicância com a vacina, mas comandar que é bom, como determina a lei e como o eleitorado decidiu, muito pouco, ou nada. Para começar, o Executivo não controla nem a metade do Orçamento federal; o resto poderia estar sendo gasto no Paraguai. O presidente não manda na máquina pública; não pode nomear nem o diretor da Polícia Federal. Também não pode demitir. Cada um faz mais ou menos o que bem entende, frequentemente em obediência ao PT e a grupos de esquerda. O governo dá ordens que são pura e simplesmente ignoradas. Decidiu que não poderia haver demissões de empregados que não tivessem tomado vacina; um tribunal qualquer, desses que se reproduzem como coelhos em Brasília, decidiu o contrário e ficou por isso mesmo. As Secretarias Estaduais de Saúde dão ordens opostas às do Ministério da Saúde; o que fica valendo é a decisão das secretarias. O procurador-geral da República, nomeado pelo presidente Bolsonaro, dirige uma equipe que lhe faz oposição aberta e direta.

Que raio de governo “autoritário” é esse que não tem autoridade nenhuma?

Um dos maiores aliados do governo, o ex-deputado e dirigente partidário Roberto Jefferson, está na cadeia há mais de quatro meses — é, por sinal, o único preso político do Brasil. Outro, o jornalista Allan dos Santos, teve de se refugiar nos Estados Unidos e está com a prisão solicitada à Interpol. Governadorzinhos e prefeitinhos de fim do mundo governam como bem entendem. Qualquer nulidade do Congresso ou da vida política, desde que tenha carteirinha de militante de “esquerda”, vive correndo ao STF para que o governo faça assim, ou não faça assado; é atendido sempre, como nos pedidos permanentes de “explicações”. Que raio de governo “autoritário” é esse que não tem autoridade nenhuma?

É muito interessante, assim, o ponto de vista do ministro Gilmar Mendes sobre essa anarquia cada vez mais grosseira. Segundo Gilmar, diante das realidades que estão aí na frente de todo mundo, o mais sensato para o Brasil seria a adoção do parlamentarismo. É, possivelmente, a única contribuição construtiva jamais dada para o atual debate político por um membro do STF. O que adianta ter presidente da República se a Presidência da República não manda nada? Para que esse drama de eleição presidencial a cada quatro anos se o eleito, seja quem for, vai passar o tempo todo em crise? Eis aí um excelente recado: se não governa, pede para sair.

Revista Oeste














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'A defesa da autonomia médica é essencial',

 por José Geraldo Barbosa Jr. e José Luiz Bevilacqua


Sem nenhum embasamento técnico, representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário passaram a opinar sobre formas de tratamento e prevenção da covid-19


Aautonomia é a faculdade que permite ao médico tomar decisões de maneira consciente, independente e livre, de acordo com seus padrões de conduta moral e com o código de ética estabelecido, sem que haja influência de outros aspectos exteriores (econômicos, políticos etc).

Decorrente da autonomia, a responsabilidade profissional está implícita na atividade médica, assim como o dever de fazer o bem e de nunca prejudicar — primum non nocere — desde o primeiro Código de Ética Médica, como é considerado o Juramento de Hipócrates, passando pela Declaração de Helsinki, da Associação Médica Mundial, e presente nos Códigos de Ética brasileiros.

O Código de Ética Médica, cuja versão atual entrou em vigor em 2018, garante uma série de direitos, entre os quais destacamos o de exercer a medicina sem ser discriminado por questões de qualquer natureza e o de indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas cientificamente reconhecidas e respeitada a legislação vigente. Há também 117 vedações, cujo não cumprimento sujeita o médico à punição, que pode ir desde advertência confidencial em aviso reservado até cassação do exercício profissional.

Como ressaltado no próprio Código de Ética Médica, ao indicar o que considera o procedimento adequado ao paciente, o médico deve se basear no conhecimento científico disponível. Porém, o exercício da medicina deve se pautar também no tirocínio, isto é, na prática adquirida no decorrer do treinamento médico, sob a supervisão de médicos mais experientes, e na experiência adquirida no atendimento dos pacientes.

Portanto, a autonomia se justifica na medida em que o médico visa sempre ao melhor para o seu paciente, baseado em sua experiência e no conhecimento científico disponível, e assume a responsabilidade pelas condutas diagnósticas e terapêuticas propostas.

As recentes vacinas contra a covid-19 tiveram o seu valor, mas não se mostraram eficazes em conter a disseminação da doença

Nos últimos anos, com o aumento da disponibilidade de informações de saúde proporcionado pela internet, vem ocorrendo um fenômeno de substituição da consulta aos médicos pela consulta aos novos “experts” da internet. No entanto, muitas vezes esses profissionais não têm nenhuma formação na área da saúde e outros, talvez até pior, são profissionais que não têm em seu escopo de atuação o diagnóstico e o tratamento de doenças. 

Nesses quase dois anos de pandemia de covid-19, esse cenário se acentuou. Sem nenhum embasamento técnico, representantes do povo, do Poder Executivo, principalmente estaduais e municipais, passando pelo Poder Legislativo e até detentores de cargos no Judiciário, que não possuem nenhuma representatividade popular, passaram a opinar sobre formas de tratamento e prevenção da covid-19.

Como, por exemplo, no caso do Supremo Tribunal Federal, que instituiu o chamado passaporte vacinal, ou sanitário, como querem alguns, sem absolutamente nenhum embasamento médico. As recentes vacinas contra a covid-19 tiveram o seu valor, principalmente em faixas etárias mais elevadas. No entanto, não se mostraram eficazes em conter a disseminação da doença, pessoa a pessoa, não se prestando ao fim a que se propõem. Esse foi mais um assunto em que a opinião de médicos foi simplesmente desconsiderada.  

Enfraquecimento da autonomia médica em autarquias

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem por finalidade promover a proteção da saúde da população e tem a prerrogativa de aprovar a indicação de vacinas, como ocorreu recentemente com a controversa autorização da vacina da Pfizer contra covid-19 para aplicação em crianças de 5 a 11 anos de idade. Contudo, a agência regulatória possui apenas dois médicos entre os cinco componentes de sua Diretoria Colegiada. 

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regular o mercado de planos privados de saúde no Brasil, não contava com médicos em sua Diretoria Colegiada até o fim deste ano — dois médicos deverão compor a diretoria depois da aprovação de suas indicações pelo Senado Federal. Esses são dois exemplos de que as políticas de saúde no Brasil estão sendo definidas cada vez menos por médicos, o que pode ser um fator de enfraquecimento da autonomia médica.

O Conselho Federal de Medicina, autarquia responsável por fiscalizar e normatizar a prática médica no Brasil, manifestou em diversas oportunidades e fóruns a necessidade de garantir a autonomia médica no diagnóstico e, principalmente, na escolha do tratamento de seus pacientes — no caso da covid-19 não havia muitas opções. A sociedade deveria lutar pela manutenção dessa autonomia. Esse princípio permite que, diante das incertezas, o médico possa envidar todos os seus esforços e sua experiência, aliados às melhores evidências científicas disponíveis, para atingir o objetivo mais importante de sua existência: a saúde e a vida de seu paciente.


José Geraldo Barbosa Jr. é médico com atuação na área de Gestão de Valor em Saúde

José Luiz B. Bevilacqua é médico, cirurgião oncológico e mastologista, doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP


Revista Oeste


















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'Um caminho para o Brasil',

 por Janaina Paschoal

O único que não se pode trilhar é o do retrocesso ao modelo que viabilizou o Mensalão e os crimes comuns bem evidenciados durante o desenrolar da Operação Lava Jato


Algumas pessoas começaram a seguir a política agora e ainda o fazem por meio das redes sociais. Esse conhecimento superficial e momentâneo prejudica a noção de médio e longo prazos.

Talvez por ser professora de Direito e por enfrentar, junto com os alunos, as mudanças no Direito Penal aplicado na prática, mais do que qualquer brasileiro, acompanhei no detalhe o desenrolar do julgamento do Mensalão e pude traduzir o divisor de águas que significou a Suprema Corte alcançar os mais altos quadros da política e alguns representantes do empresariado, punindo de forma exemplar, embora ainda diferenciada, estes e aqueles.

Com efeito, críticos e entusiastas do julgamento do Mensalão reconhecem a desproporcionalidade das punições aplicadas aos empresários, quando comparadas às que incidiram sobre os políticos. Apesar de injusta, essa desproporção teve um efeito “pedagógico” sobre os empresários, que, quando do início da Lava Jato, decidiram colaborar, entregando os políticos, para não correrem o risco de ser sacrificados.

Em outras palavras, o medo de serem punidos, como no caso do Mensalão, fez os alvos da Lava Jato colaborarem. Ocorre que, ao longo de toda a operação, por meio de textos e teses acadêmicas, artigos e entrevistas para os jornais, formadores de opinião criaram o “caldo de cultura” apropriado para, no momento oportuno, fomentar as anulações.

Tanto é verdade que, muito antes de aparecerem os tais diálogos do capítulo conhecido como “Vaza Jato”, eu já alertava para o risco de serem anuladas todas as investigações, ações e condenações que, ao lado do julgamento do Mensalão e do processo de impeachment, formaram o maior movimento de depuração dos últimos tempos.

Para quem testemunhou o que ocorreu com outras grandes operações policiais, fica fácil perceber que os diálogos não foram a causa das anulações, foram apenas a “desculpa” utilizada para tentar justificar o injustificável.

Por óbvio, o julgamento do Mensalão, o processo de impeachment e a Operação Lava Jato renderiam cada qual uma verdadeira tese. Este breve histórico não tem o fim de aprofundar todas as nuances desses importantes eventos da História recente.

Nada obstante, lembrar o encadeamento de fatos é essencial para que os brasileiros percebam que o único caminho que o Brasil não pode trilhar é o do retrocesso ao modelo que, sem nenhuma dúvida, viabilizou o Mensalão, os crimes de responsabilidade que levaram ao impeachment e os crimes comuns bem evidenciados durante o desenrolar da Operação Lava Jato.

Os atores desse modelo são poderosos, tanto no que concerne aos recursos econômicos, quanto no que tange à capilaridade. Eles estão nas universidades, nos meios de comunicação, à frente das grandes plataformas, que “permitem” ou inviabilizam o debate.

O jantar que selou a união entre Lula e Alckmin não aproximou apenas Lula e Alckmin, muitos desses atores estavam presentes, sendo imperioso destacar que a “confraternização” foi festejada pelos formadores de opinião, que sempre lucraram com o modelo que agora buscam resgatar.

Não aceito a derrota sem trabalhar em prol de um resultado diverso daquele que seria um destino trágico

Não sei se nas demais Casas Legislativas o espírito é o mesmo, mas, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a volta do PT ao poder, com todas as consequências inerentes a esse retorno, é dada como certa. E não se trata de ilação feita por parlamentares da esquerda. Colegas das mais diversas siglas têm a vitória de Lula como dada, havendo alguns que ousam apostar em “liquidar a fatura” no primeiro turno.

Não nego que vivamos um momento delicado. Os riscos são reais, e o fato de Alckmin afrontar seus eleitores de décadas para garantir um cargo de poder bem evidencia que as chances de Lula são grandes. Porém, sendo otimista por decisão, não aceito a anunciada derrota sem trabalhar em prol de um resultado diverso daquele que seria um destino trágico.

Já há algum tempo, venho insistindo na necessidade de unir forças à direita, dado que as forças à esquerda sempre estiveram juntas e, com inegável inteligência, vêm logrando êxito em fingir moderação. A própria sinalização de Lula a Alckmin faz parte desse teatro. E do lado da “direita”, ocorre o quê? Bolsonaristas e não bolsonaristas se atacam mutuamente, por conseguinte, fortalecem a esquerda.

Quando brado por união, não peço que um potencial candidato, à direita, abdique de sua candidatura em benefício de outro. Não é disso que se trata! A eleição em dois turnos confere o conforto de decidir duas vezes. Aliás, a existência de mais opções afasta o fantasma de Lula ganhar no primeiro turno. O pleito, na verdade, visa a evitar que os direitistas façam o serviço para os esquerdistas.

Como brasileira preocupada com o país e não com a própria eleição, penso diuturnamente em como será difícil reunir todas essas pessoas em eventual segundo turno. Os que hoje desconstroem Bolsonaro votarão em Lula no segundo turno? E se quem passar for Sergio Moro, os que hoje o desmoralizam como traidor votarão em Lula? Ficarão neutros? Anularão seus votos?

É preciso pensar nos cenários possíveis para o primeiro e para o segundo turnos. É preciso trabalhar para que tenhamos opções ao modelo que fez florescer Mensalão, Petrolão e a instrumentalização dos bancos públicos. Isso sem contar todo apoio moral e material às ditaduras de esquerda, que seguem assombrando a América Latina.

Essa abordagem vem sendo mal compreendida, tomada como estratégia para angariar votos de eleitores de Bolsonaro e Moro. Não é. Para me eleger senadora, seria mais interessante escolher um lado. E, se fosse por segurança pessoal, bastaria concorrer à reeleição na Alesp.

Precisamos garantir que haja segundo turno e que o candidato com maiores chances passe pelo primeiro. Também resta necessário criar condições para que o candidato vencido e seus eleitores apoiem o vencedor contra a volta do modelo rejeitado em 2018. Se não ocorrer essa almejada junção, o Brasil perde.


Revista Oeste




















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'Que futuro têm os velhos?',

 escreve Agnaldo Silva

De todas as minorias discriminadas, a mais discriminada de todas é essa que nem é tão minoria assim: a dos idosos


Houve uma época em que os prêmios literários eram o caminho mais rápido para um escritor se tornar conhecido e ganhar alguns trocados. Nos anos 1960 do século passado, havia dezenas deles. O mais famoso era o Walmap, patrocinado por um banco mineiro — o Nacional —, cuja história de amparo às artes se perdeu na poeira dos tempos. Eu mesmo concorri várias vezes a ele. Mas nunca fui além dos dez finalistas ou da menção honrosa — posições que me faziam bem ao ego, mas não me rendiam nem fama nem dinheiro.

A maioria dos ganhadores do Walmap, tal como o prêmio e o banco que o patrocinava, caiu no esquecimento. Eu, desiludido com a literatura, atravessei uma fronteira então considerada maldita e, assim, me estabeleci como escritor no território menos nobre da televisão, das telenovelas e, sejamos bem sinceros, do dinheiro. Mas… por que diabos estou a escrever sobre prêmios literários? Porque uma cláusula de um dos raros que ainda existem — o Prêmio Literário José Saramago — me remeteu ao tema que, após o “nariz de cera” logo acima, vou abordar nesse artigo: a discriminação aos idosos.

O prêmio em questão, cito, “distingue obras inéditas de ficção de autores da lusofonia até os 40 anos”. Se o escritor tiver até 40 anos, poderá concorrer e abiscoitar o interessante prêmio de € 40 mil. Mas, se tiver 41, por mais talentoso que seja, não terá permissão para isso. Pois, para efeito de criatividade e quaisquer outros, ao que tudo indica, já deverá ser considerado tecnicamente morto.

Claro que os promotores do Prêmio José Saramago dirão que não existe nenhuma intenção discriminatória nessa única cláusula restritiva, inclusive porque no corpo de jurados foram incluídas pessoas com mais de 70 anos — a romancista brasileira Nelida Piñon é uma delas… E eles estarão certos. Mas os escritores de mais de 40 insistirão em dizer que estão errados. E que essa cláusula restritiva é apenas uma forma elegante de discriminar os mais velhos. Afinal, José Saramago ganhou o Nobel de Literatura aos 76 anos… O que significa que, naquela época, ele já não estaria apto a concorrer ao prêmio que leva o seu nome.

A discriminação aos idosos não é só cruel, mas é também muito criativa

Por isso — e baseado na minha própria experiência, já que farei 79 anos no próximo mês de junho —, eu aqui afirmo: de todas as minorias discriminadas, a mais discriminada de todas é essa que nem é tão minoria assim (em alguns países chega a ser maioria): a dos idosos. Ou, para que a coisa toda pareça mais cruel: a dos coroas. Dos vovôs. Dos velhotes. Dos caquéticos. Atire-me a primeira pedra a pessoa idosa que nunca foi chamada de “desenterrado do cemitério”, “kakura”, “caduco”, “nojento”, “fedorento”… Ou muitos outros insultos desse tipo acrescentados ao prenome “velho”. Às vezes de um modo paternalista, ou quase “terno”. Outras, do único modo pelo qual deve ser reconhecido qualquer tipo de insulto: de forma cruel…

Sem falar na crueldade, que é bastante comum aqui na Europa, de encerrar os idosos nos chamados “lares”, onde eles ficam trancados, mas deixam seus bens lá fora para que os jovens da família ganhem o direito de usufruir deles da melhor maneira.

A discriminação aos idosos não é só cruel, mas é também muito criativa. Vou dar um exemplo: citei no parágrafo acima a palavra “kakura”. Percebi que, nos últimos tempos, muitos a utilizam quando querem me insultar nas redes sociais. Como não tinha a menor ideia do que significava, fui pesquisar e descobri que, primeiro, essa tal palavra não existe… Mas talvez tenha se derivado de “caqueira” — ou seja, é aplicável a alguém que, como eu, seja um “caco velho”.

Sim, provavelmente é de “caco” ou “caqueira” que a tal kakura saiu. Porém, embora a palavra não conste de nenhum dos dicionários mais sérios e menos consultados, para que se torne um insulto de maior peso, ela precisa ter uma explicação, digamos assim, mais “etimológica”. Por isso, num tal Dicionário Informal existente na internet, já há uma definição para “cacura”, ou “kakura”, e esta é: “Homossexual (masculino) de idade avançada, com mais de 40 anos, enrugado. Geralmente a expressão é usada para definir homens enrustidos e de mais idade”.

Mas tem mais: em outro Dicionário Informal na internet, kakura com K ganha um status ainda maior. Seria uma palavra saída de um misterioso dialeto africano no qual é usada para designar (pois é claro) “homossexuais velhos”. Assim, fica entronizada a expressão cruel no maravilhoso reino das palavras com histórico. E, diante de sua definição, não há como negar que, aos 79 anos, eu seja as duas coisas: “cacura” e “kakura”.

Esse é um exemplo de como a discriminação se oficializa e se autoafirma através do insulto puro e simples. Mas, em relação aos idosos, ela nem precisa seguir por esse caminho. Basta ver o papel a eles reservado na publicidade, por exemplo: aos velhos, o que se tenta vender são aparelhos de surdez, fraldas geriátricas, óculos capazes de dar aos olhos cansados a ilusão das cores da juventude, pós e unguentos para as dores próprias da idade, ou planos de saúde inacessíveis à maioria dos mal aposentados.

Se no terreno escorregadio da publicidade não existem meios-termos — ninguém é louco a ponto de tentar vender uma Ferrari envenenada a um ancião com problemas sérios de joelhos, ou um colar de refulgentes diamantes e esmeraldas a uma vovó engraçadinha cujo colo antes sedoso agora ficou engelhado —, no dia a dia, a indiferença e o desamor aos velhos e caquéticos por parte daqueles que se consideram “para sempre jovens” são ainda mais evidentes.

Para mim, não existe nada mais triste do que ver uma família reunida numa mesa de restaurante onde está uma pessoa idosa à qual ninguém dirige a palavra e que se limita a olhar em torno com olhos vagos, como se quem estivesse ali não fosse a pessoa que ela um dia fora, mas apenas o seu espectro. Diz-se cruelmente dessas pessoas que “já está com um pé na cova”. Ou então que “já morreu, apenas ainda não foi enterrada”.

Claro, a culpa disso tudo também é dos idosos, que aceitam a discriminação como irremediável ou um “bônus” da idade. Pois se há uma coisa que essa proporciona é o direito de fazer e dizer o que se quer sem medos nem remorsos. Assim, se alguém me perguntasse que conselho eu daria aos velhos, parodiando o conselho que certa vez Nelson Rodrigues deu aos jovens — “Envelheçam!” —, eu lhes diria: “Rejuvenesçam!” Deixem bem claro para a turma ignorante e preconceituosa que a experiência de vida é um bem precioso. Não renunciem a ele, nem se deixem expulsar do lugar que — até que a morte realmente os leve — por direito é de todos os velhos neste nosso mundo cada vez mais envelhecido e caquético.


Revista Oeste

















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'Uma democracia curiosa',

 por Ives Gandra Martins

Meu desconforto cresce à medida que cresce o intervencionismo judicial

O Brasil vive um momento em que duas realidades opostas são tidas por  democráticas, a saber: aquela idealizada pelos constituintes e aquela definida pelo Supremo Tribunal Federal.

Participei de audiências públicas a convite dos constituintes, mantive contatos permanentes com o relator da Constituição, senador Bernardo Cabral, mandando-lhe até mesmo sugestões de textos, a seu pedido; com o presidente, deputado Ulisses Guimarães, que chegou a assistir a palestra minha sobre o parlamentarismo, pois era sua vontade implementar o sistema no Brasil.

Também estive com o deputado Francisco Dornelles, que me fez um dos primeiros convidados para audiência pública, na Subcomissão de Tributos, algumas de minhas sugestões tendo sido incluídas na Lei Suprema; com o deputado Delfim Netto, na Subcomissão de Economia, em audiência pública; com Roberto Cardoso Alves, já no plenário que comandou o grupo o qual a imprensa denominou de centrão, quando, a seu pedido, redigi, com Hamilton Dias de Souza, novo anteprojeto tributário, objetivando salvar — o que, de certa forma, foi possível — o trabalho da Subcomissão —, consta da primeira edição de meu livro Sistema Tributário na Constituição (Editora Saraiva) o texto do substitutivo.

Além de inúmeros outros contatos, encontros e palestras. Organizei um congresso pela Fecomércio de Minas Gerais e pela Academia Internacional de Direito e Economia, dez dias antes da promulgação da Carta Magna, em que, durante três dias, com participação de mais de 50 palestrantes (ministros do STF, TFR e TST, desembargadores, senadores, deputados, ministros do Executivo, governadores, professores universitários, especialistas), se discutiram, em painéis simultâneos, todos os capítulos e seções da nova Lei Suprema. 

As palestras foram editadas pela Forense Universitária sob o título A Constituição de 1988 — Interpretações. Por fim, comentei com Celso Bastos, em 15 volumes, mais ou menos 10.000 páginas e em dez anos (1988-1998), o Texto Supremo pela Editora Saraiva.

Até hoje no Conselho Superior de Direito da Fecomércio-SP, que presido, o relator da Constituinte, senador Bernardo Cabral, é conselheiro, sendo quem melhor poderia testemunhar sobre esta modesta, mas intensa participação minha no processo constituinte. 

Este ativismo judicial descaracteriza a independência e a harmonia dos Poderes

Exatamente por esta razão, causa-me desconforto divergir dos eminentes ministros da Suprema Corte — muitos deles amigos e com quem escrevi livros, participei de bancas universitárias, proferi palestras — sobre sua visão de que o Supremo Tribunal Federal é o maior Poder da República, com o direito de corrigir os rumos do Executivo, legislar para suprir vácuos legislativos e reformular votações sobre matérias de exclusiva responsabilidade da Casa, sempre que a oposição derrotada recorra ao Pretório Excelso para que lhe permita ganhar com 11 votos o que não conseguiram entre 513 deputados e 81 senadores.

Este ativismo judicial, que descaracteriza a independência e a harmonia dos Poderes do Artigo 2° da Lei Maior, pois coloca um Poder acima dos outros dois, por muitos é tido como uma nova corrente do moderno constitucionalismo, denominado ou de “consequencialismo” ou de “neoconstitucionalismo”. Por ela, caberia ao Supremo, como disse o ministro Toffoli em Lisboa, ser o Poder Moderador e ao ministro Luiz  Fux, o defensor da democracia. Por essa corrente doutrinária, os fins justificam os meios. 

Ocorre que, todavia, na Lei Suprema, o Título IV em que se insere o Poder Judiciário, como o último dos Três Poderes, a denominação é apenas de “Organização dos Poderes”, lembrando-se que o constituinte colocou como enunciado do Título V, o seguinte: “Da defesa do Estado e das instituições democráticas”, outorgando às Forças Armadas e de Segurança Pública tal função.  

O que mais impressiona, entretanto, é que nem mesmo nas ações diretas de inconstitucionalidade por omissão pode o Judiciário legislar, devendo solicitar ao Legislativo que o faça (Artigo 103 § 2° da Carta da República), numa clara demonstração que há um nítido conflito entre o pensamento do constituinte e aquele dos eminentes julgadores federais. 

Por fim, para não alongar demais este artigo, é de se lembrar que o Artigo 49, inciso XI, impõe ao Legislativo que zele por seu poder normativo, entendendo eu que pode não obedecer ordem do Supremo que invada tal competência, por força da Constituição Federal, visto que só ao Legislativo cabe zelar por sua independência normativa.

Como se percebe, apesar da grande admiração que tenho pelos ínclitos julgadores do STF, meu desconforto cresce à medida que cresce o intervencionismo judicial. 


Revista Oeste




















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'O país dos descondenados',

 por Silvio Navarro

A liberdade dos bandidos do petrolão e a prisão de Roberto Jefferson deixam claras as injustiças da Justiça brasileira


Em outubro do ano passado, o país acordou com uma manchete que assustou até os plantonistas dos “direitos humanos” nas redações e nos famosos escritórios de advocacia. O narcotraficante André Oliveira Macedo, de 43 anos, conhecido pelo apelido de André do Rap na facção Primeiro Comando da Capital (PCC), saiu pela porta da frente da penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista. A soltura fora determinada pelo então ministro Marco Aurélio Mello, no apagar das luzes de sua aposentadoria do gabinete do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo o promotor Lincoln Gakya, que enfrenta o PCC com os punhos erguidos há décadas, ao deixar a prisão, André do Rap fugiu para a Bolívia. Ele é um dos responsáveis pelo fluxo internacional de drogas escoado diariamente pelo Porto de Santos, onde a fiscalização é frouxa. Em 2019, antes de ser preso em uma mansão de luxo em Angra dos Reis (RJ), tinha lancha, helicóptero e dirigia um Porsche. Ao ganhar a liberdade, faltavam mais de 25 anos de cadeia para cumprir. Então por que foi solto?

Porque o Brasil é um país onde o crime compensa. A polícia prende, mas o Judiciário solta. Como não tinha condenação definitiva desde 2019, Marco Aurélio decidiu que ninguém pode permanecer mais de 90 dias em prisão provisória sem revisão, conforme determina o pacote anticrime aprovado pelo Congresso Nacional no ano passado. Horas depois da concessão do habeas corpus, até o presidente do STF, Luiz Fux, reagiu com espanto e revogou a canetada. Tarde demais. O criminoso já havia cruzado a fronteira.

O ex-corruptos

Foi assim também em 2021 com os bandidos de colarinho-branco, os famosos assaltantes dos pagadores de impostos. Uma boa parte deles caiu na malha fina da Lava Jato durante os sete anos de duração da operação — que foi perdendo fôlego à medida que os arranjos políticos em Brasília ganharam envergadura. Um dos casos mais emblemáticos foi o do ladrão sincero Pedro Barusco, funcionário do terceiro escalão da Petrobras. Ao ser flagrado roubando o cofre da estatal, devolveu sem titubear US$ 100 milhões que estavam escondidos na Suíça. Em troca, a promessa de não passar mais de uma década atrás das grades.

“A coisa foi acontecendo, um oferece e o outro recebe. O relacionamento vai se estreitando e, quando a gente vê, está no meio desse processo. É uma coisa contínua”

O jornal O Estado de S.Paulo fez um levantamento no início do mês sobre a anulação de penas por tribunais superiores. O número é escandaloso: 277 anos. Como o STF não para, a reportagem de Oeste ultrapassou a marca de 300 anos. Ao menos 15 políticos tiveram suas condenações anuladas por tribunais superiores, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O fato é que o único político graúdo ainda encarcerado no Brasil é Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro. Ainda assim, ele está conseguindo, mês a mês, reduzir a pena de 400 anos de prisão — são 21 condenações. O ex-ministro Antonio Palocci também — até a tornozeleira já foi tirada.

Já o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, está preso num inquérito cuja base não tem respaldo na história. O STF inventou um guarda-chuva jurídico para prender quem critica as decisões dos magistrados. O mesmo aconteceu — como nunca antes neste país — com o deputado federal Daniel Silveira, do Rio de Janeiro.

O parlamentar foi preso não por ter roubado o país, como os ex-tesoureiros do PT João Vaccari Neto e Delúbio Soares, mas por ter gravado um vídeo recheado de grosserias. Ambos têm como defensor o advogado Cristiano Zanin Martins.

Zanin estaria condenado ao eterno anonimato se não tivesse casado com a filha do advogado Roberto Teixeira, que virou um dos mais queridos amigos de Lula ao ceder-lhe gratuitamente o apartamento em São Bernardo ocupado anos a fio pela família do futuro presidente. “Ali Lula descobriu como mora gente rica”, observou Augusto Nunes, colunista de Oeste, num artigo publicado no portal R7. “Ali também aprendeu que é possível ser dono de imóveis sem perder tempo com regularização de escrituras. Ali acabou por tornar-se parceiro de Roberto Teixeira em negócios suspeitíssimos.”

Como alguns desses negócios aconselharam o sogro a não assumir ostensivamente a defesa do amigo no esforço para livrá-lo das descobertas da Lava Jato, o genro virou advogado de Lula. Também ganhou a admiração de ministros do STF, como Gilmar Mendes:

“Gostaria, neste momento, senhores ministros, e acho que falo em nome do tribunal, de reconhecer o brilhante trabalho da defesa. É um advogado que não se cansou de trazer questões ao tribunal. Muitas vezes, foi até censurado, incompreendido”

Plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) | Foto: Divulgação

A origem dessa bagunça começou no dia 8 de março deste ano, quando o ministro do STF Luiz Edson Fachin anulou com uma só canetada todas as condenações do ex-presidente Lula — triplex do Guarujá, sítio em Atibaia e terreno do instituto na capital paulista.

“Verificou-se que os supostos atos ilícitos não envolviam diretamente apenas a Petrobras, mas ainda outros órgãos da administração pública.” Com essa frase, Fachin determinou que todos os processos envolvendo agentes políticos denunciados pela PGR, entre eles o do ex-presidente, deveriam ser transferidos para a Primeira Instância. A impunidade foi recuperada.


















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'Prêmio Seringa Press 2021',

 segundo Guilherme Fiuza


Confira a lista dos agraciados


Chegamos enfim ao momento mais aguardado do ano: a divulgação dos vencedores do Prêmio Seringa Press 2021 — o Oscar do lobby vacinal. Segue a lista dos agraciados:

— Melhor Infectologista: Bill Gates.

— Melhor Epidemiologista: Bill Gates.

— Melhor Virologista: Bill Gates.

— Melhor Sanitarista: Bill Gates.

— Melhor Oráculo da Ciência: Bill Gates.

— Melhor Profeta de Pandemia: Bill Gates.

— Melhor Clínico: Bill Gates.

— Melhor Cínico: Bill Gates.

— Melhor Pediatra: Bill Gates.

— Melhor Enfermeiro: Bill Gates.

— O Cara Que Sabe O Que É Bom Pra Tosse: Bill Gates.

— Melhor Médico de Família: Bill Gates.

— Melhor Amigo da Família: Bill Gates.

— Melhor Amigo da Mamãe Farma: Bill Gates.

— Melhor Amigo da OMS: Bill Gates.

— Melhor Amigo das Agências Reguladoras de Saúde: Bill Gates.

— Melhor Amigo da Ditadura Chinesa: Bill Gates.

— Melhor Amigo dos Amigos do Laboratório de Wuhan: Bill Gates.

— Melhor Amigo do Aloprado Doutor Fauci: Bill Gates.

— Melhor Amigo do Jornalista Carente: Bill Gates.

— Melhor Socorrista da Imprensa Falida: Bill Gates.

— Melhor Benemérito das Milícias Checadoras: Bill Gates.

— Melhor Benfeitor das Consciências de Aluguel: Bill Gates.

— Melhor Conselheiro das Horas Difíceis: Bill Gates.

— Cara Mais Legal Que Tem Por Aí: Bill Gates.

— Maior Guardião da Verdade Universal: Bill Gates.

— Muso Onisciente das Plataformas Digitais: Bill Gates.

— Maior Exterminador Do Que É Errado: Bill Gates.

— Maior Viralizador Do Que É Certo: Bill Gates.

— Maior Viralizador: Bill Gates.

— Maior Velocista da História das Vacinas: Bill Gates.

— O Cara Que Acabou Com Aquela Burocracia Chata De Ter Que Esperar Anos De Estudos Pra Saber Se Uma Vacina Era Boa: Bill Gates.

— O Cara Que Ensinou À Ciência O Que É Propaganda na Veia: Bill Gates.

— O Cara Que Amoleceu Uma Multidão de Corações Com Seus Belos Olhos: Bill Gates.

— O Cara Mais Mão-Aberta Que Eu Já Conheci: Bill Gates.

— O Cara Que Mais Se Preocupa Com A Sua Saúde: Bill Gates.

— Melhor Higienizador Do Ambiente: Bill Gates.

— Melhor Purificador da Humanidade: Bill Gates.

— Melhor Cara Pra Te Dizer Quantas Picadas Têm Que Constar No Seu Passaporte Sanitário: Bill Gates.

— Melhor Fiador do Esquema Vacinal Completo: Bill Gates.

— Melhor Pessoa Pra Segurar A Coleira Que Vai Te Guiar Pelo Mundo da Imunidade Imaculada: Bill Gates.

— Melhor Pessoa Pra Arrancar A Máscara Dos Nazistoides Alucinados Fantasiados De Salvadores da Espécie: Você.

Revista Oeste












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'O confisco da liberdade',

  por Branca Nunes e Augusto Nunes

Os chefes do combate à pandemia instalaram na UTI direitos que a civilização ocidental levou séculos para consolidar


Éimpossível imaginar Winston Churchill isolado num gabinete, o rosto coberto pela máscara negra customizada, comandando a guerra contra um vírus chinês com a imposição de lockdowns e o rebaixamento a inimigo da pátria de qualquer súdito de Sua Majestade que ousasse dar as caras na rua. A hipótese é tão inverossímil quanto enxergar João Doria no cargo de primeiro-ministro britânico ao longo de 1940, liderando com palavras e ações a resistência solitária ao avanço das forças armadas de Adolf Hitler. Churchill foi o maior dos estadistas. Doria é apenas um dos governadores promovidos a tiranetes provincianos pelo Supremo Tribunal Federal, com poderes de sobra para, em parceria com os prefeitos, fazer o diabo no combate à pandemia de covid-19 até que a última esquadrilha de coronavírus voe de volta ao país natal.

O deserto de homens e ideias vislumbrado nos anos 1940 pelo chanceler Oswaldo Aranha restringia-se ao Brasil. A paisagem planetária era bem menos agreste. Em maio de 1941, com a ostensiva entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, Franklin Roosevelt, único a vencer quatro eleições presidenciais consecutivas, interrompeu a solidão de Churchill. O mais longevo inquilino da Casa Branca puxou a fila que incluiria líderes nacionais brilhantes, militares audaciosos e diplomatas de fina linhagem. A contemplação do elenco confirma que a vitória dos Aliados foi marcada pela coragem. E ninguém foi mais audaz que Churchill. Depois da retirada de Dunquerque, por exemplo, ele primeiro louvou a épica mobilização que resgatou das praias francesas mais de 300 mil soldados britânicos sitiados pelo Exército nazista. Em seguida, fez a advertência: “Não se ganha uma guerra com retiradas”.

Churchill, Roosevelt e Stalin durante a conferência de Yalta | Foto: National Museum of the U.S. Navy

Em agosto de 1940, em meio ao bombardeio de Londres que duraria 40 dias, ele frequentemente ordenou que aviadores da Real Air Force esquecessem por algumas horas a assustadora desvantagem numérica, deixassem os céus escurecidos pela Batalha da Inglaterra e quebrassem a moral do inimigo com ataques aéreos a Berlim e outras grandes cidades alemãs. Se estivesse no lugar de Churchill, uma Margaret Thatcher certamente faria a mesma coisa. Ela foi uma estadista e tanto. Mas o que teria acontecido caso o substituto fosse o atual primeiro-ministro, Boris Johnson? Pelo que fez e anda fazendo no combate à pandemia, essa flor de mediocridade não surpreenderia ninguém se determinasse a todos os britânicos — incluídos os alistados no Exército, na Marinha e na Aeronáutica, os integrantes do governo e ele próprio — que permanecessem em abrigos subterrâneos até que a guerra acabasse. Com a vitória de Hitler e seu comparsa italiano Benito Mussolini, naturalmente.

Churchill teve de lidar simultaneamente com a maior das guerras até então travadas e com conflitos domésticos inevitáveis nas democracias. Para reduzir as colisões entre partidos, montou um ministério de união nacional. Isso não o livrou da feroz bancada oposicionista no Parlamento (que, ao contrário do que ocorreria décadas mais tarde em vários pontos do planeta fustigados pela covid, continuou funcionando normalmente). Entre uma visita ao front e uma viagem aérea de alto risco rumo a outra reunião secreta do alto comando aliado, o primeiro-ministro teve de sobreviver a moções de desconfiança que se seguiam a cada insucesso na guerra, que não foram poucos. “É preciso coragem para levantar-se e falar, mas também é preciso coragem para sentar-se e ouvir”, aprendeu. Para ele, aliás, a coragem é a maior das qualidade humanas, porque garante as demais.

Os loucos por lockdown

Vista em seu conjunto, a performance dos chefes do combate à pandemia reitera que estadistas são uma espécie aparentemente desaparecida da face da Terra. É perturbador descobrir que o mundo ficou parecido com o Brasil da frase de Oswaldo Aranha. Ainda mais inquietante é constatar que os generais e sargentos que dirigem a guerra contra a pandemia se dividem entre os incapazes, os capazes de tudo e as bestas quadradas que acham possível vencer combates com retiradas sucessivas. A inquietação dos portadores de cérebros sem avarias é ampliada pela transformação do Supremo Tribunal Federal num Poder Moderador que age imoderadamente em favor dos governadores e prefeitos — e invariavelmente contra o chefe do Poder Executivo. Tudo o que faz ou pensa o presidente da República é coisa de genocida negacionista. Todas as bobagens produzidas pelos chefetes regionais ou municipais são elogiáveis, por comprovarem o respeito do bando a um oráculo batizado de ciência.

Faz quase dois anos que esses donatários do Brasil esbanjam aquela espécie de arrogância que mal camufla a pusilanimidade. Uma consulta ao abundante falatório dos loucos por lockdowns prova que a pandemia reformulou as prioridades do repertório vocabular. A discurseira agora é adornada por termos como “precaução”, “prevenção”, “cautela”, “cuidado”, “prudência”, “isolamento” e outras sopas de letras associadas ao medo. A mesma consulta informa que a palavra “coragem” foi expulsa da garganta da turma do “fique em casa”. Virou palavrão, coisa de bordel, conversa de cabaré, indigna de salões frequentados por gente que não dá um passo sem ouvir, pela voz dos condutores da guerra, o que dizem a ciência e a saúde. Se tivesse nascido na primeira metade do século passado numa fazenda do Reino Unido, essa gente se esconderia no celeiro de 1939 a 1945. E continuaria a afastar-se do mundo sempre que avistasse no horizonte algum avião de carreira.

Churchill, Roosevelt, o francês Charles de Gaulle e milhões de jovens anônimos foram à guerra para impedir o assassinato da liberdade. Os tiranetes cevados pela pandemia confiscaram direitos fundamentais a cada avanço do exército brancaleônico. A primeira vítima foi o direito de ir e vir, degolado por quarentenas e fechamentos de estradas. Em março de 2020, os humanos descobriram que já não eram livres para sair de casa quando quisessem, conviver com amigos ou familiares, muito menos ir a lojas, bares e restaurantes. Cinemas e teatros estavam interditados. Crianças haviam perdido a permissão para estudar em salas de aula e todos deveriam cobrir o rosto com máscaras.

A segunda foi a liberdade de expressão, guilhotinada pela submissão de todas as discordâncias à verdade oficial. Deixou de existir qualquer oportunidade para discutir ou debater as decisões das autoridades. O massacre estendeu-se ao direito à vida, suprimido no momento em que os generais decidiram que a economia deveria ficar para depois. E agora ameaça de morte a liberdade religiosa, o livre-arbítrio sobre o próprio corpo e o pátrio poder. Políticos e juízes tratam como bandidos os cidadãos que não se vacinaram e como criminosos hediondos os pais que se recusam a vacinar um filho.

Evandro Pelarin, juiz da Vara da Infância e da Juventude de São José do Rio Preto, por exemplo, resolveu intimidar todos os pais e mães da cidade. “A partir do momento que a Anvisa libera a vacinação de crianças, ela passa a ser obrigatória e os pais que deixarem de imunizar os filhos podem ser multados, processados e até perder a guarda.” Na cabeça do juiz de 44 anos, “a resistência dos pais é um crime, é colocar em risco a saúde alheia”.

A covidocracia

Os britânicos buscavam a vida normal entre um bombardeio e outro. Os brasileiros estão proibidos de acreditar que a pandemia está no fim. Os britânicos ficaram felizes com o fim da guerra. Os governantes destes trêfegos trópicos vibram com o crescimento de uma gripe e lamentam que a nova variante seja tão branda. “Essas proibições são um teatro”, observou o advogado e jornalista Michael Fumento. “Por quanto tempo permitiremos que as variantes sejam exploradas para manter uma covidocracia permanente? É hora de acabar. Precisamos dar a essa variante um novo nome de alfabeto grego: Ômega. Que é ‘o último’.”

Quem poderia imaginar que esse enredo kafkaniano se tornaria realidade?

A advogada e escritora Daria Fedotova afirma que está proliferando “uma espécie de Estado babá, que decide que seus cidadãos travessos não sabem o que é bom para eles e, portanto, precisam ser mantidos longe do perigo”. Embora a Ômicron tenha se mostrado nada letal desde sempre, Israel proibiu a entrada de estrangeiros no país. O Japão e o Marrocos fecharam o espaço aéreo. E cerca de 50 países impuseram restrições a viajantes que estiveram no sul da África.

Na contramão da liberdade individual, a Áustria tornará a vacina obrigatória a partir de fevereiro. Quem recusar a imunização será convocado por um tribunal local. Se ignorar a convocação duas vezes, pagará uma multa calculada em € 3.600. Se insistir na rejeição, será punido com multas que podem arruinar financeiramente o autor da infração. A Alemanha impôs um lockdown aos não vacinados. Cresce o número de países que exigem o passaporte de vacinação para entrar em locais fechados. Na Itália, os não vacinados estão impedidos de trabalhar.

Quem poderia imaginar que esse enredo kafkaniano se tornaria realidade? Em menos de dois anos, a civilização ocidental abriu mão com estarrecedora passividade de direitos fundamentais que levou séculos para conquistar. “Suspeito que muitos valorizam a liberdade menos do que gostamos de pensar”, afirmou o psiquiatra Theodore Dalrymple, em entrevista a Oeste. “Se a liberdade acarreta um custo, eles estão dispostos a renunciar a ela. Alguns até acham a liberdade desconfortável, especialmente quando traz responsabilidades. Preferem que alguém cuide de seu conforto.”

Derrotado na primeira eleição depois da vitória sobre o nazismo, Churchill reagiu com a naturalidade dos estadistas: “Os eleitores acharam que sou melhor durante a guerra do que em tempos de paz”. Os sacerdotes do autoritarismo à brasileira acreditam que vacina é cabo eleitoral. O primeiro-ministro que venceu a Alemanha é imortal. Daqui a 75 anos, quando alguém lembrar que houve nos anos 20 uma pandemia homicida, os rufiões do coronavírus serão, na mais favorável das hipóteses, nomes de rua. São medíocres demais para descansarem em placas nas esquinas de alguma avenida.

Revista Oeste

















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